Adubação para Café: O Guia Completo para Maximizar sua Produção

Engenheiro agrônomo, mestre e doutor em Fitotecnia focado em nutrição de plantas. Atualmente é consultor.
Adubação para Café: O Guia Completo para Maximizar sua Produção

Acertar na adubação do café é a diferença entre uma safra lucrativa e um grande prejuízo. No campo, circulam muitas informações desencontradas e até promessas de “produtos milagrosos” que podem levar o produtor a cometer erros caros, tanto para a produção quanto para o bolso.

Para evitar isso, preparamos um guia prático e direto ao ponto. Neste artigo, você encontrará as melhores dicas para adubar seu cafezal em cada fase, entenderá as exigências nutricionais da planta e terá informações confiáveis para não errar na hora de nutrir sua lavoura.

Os 3 Pilares da Adubação para Café

Uma adubação de café eficiente e econômica se baseia em três princípios fundamentais. É preciso entender a necessidade da planta, saber o que o solo já oferece e aplicar o adubo da forma mais eficaz possível.

1. Exigência e Estado Nutricional do Cafeeiro

A necessidade de nutrientes do cafeeiro está diretamente ligada à sua produção de biomassa, que é todo o material da planta: frutos, folhas e galhos. Esta regra vale tanto para o café arábica quanto para o conilon.

Os frutos são os que mais exigem nutrientes. Por isso, a época da frutificação é o período de maior demanda nutricional. Quanto maior for a sua produção, mais nutrientes a planta vai precisar.

Em anos de safra baixa, quando o cafezal foca mais em vegetar e produz menos frutos, a demanda por nutrientes também diminui.

Para saber como está a saúde nutricional da planta, o principal indicador é a análise foliar. Ela deve ser feita coletando o 3º ou 4º par de folhas totalmente abertas, a partir da ponta do galho.

uma tabela técnica intitulada ‘Teores foliares para café - Novo Boletim 100’. A tabela é um guia de referência

2. Disponibilidade de Nutrientes no Solo

Com o tempo, a pesquisa agrícola definiu classes de teores de nutrientes no solo ideais para a cultura do café. Embora existam diferentes classificações, vamos usar como referência as recomendações do Novo Boletim 100.

uma tabela técnica intitulada ‘Interpretação nutrientes no solo para café - Novo Boletim 100’. Ela serve como

Esses valores são a nossa referência. Você deve comparar os resultados da sua análise de solo com essa tabela para entender como está a fertilidade da sua lavoura de café.

O objetivo é simples: manter os teores de nutrientes na faixa “adequada”.

  • Se os teores estiverem abaixo do adequado, a lavoura pode sofrer com deficiência nutricional. Nesse caso, é preciso fazer uma adubação de correção.
  • Se os teores estiverem acima do adequado, a planta não responderá a mais adubo. Aqui, basta fazer a adubação de reposição, devolvendo ao solo apenas os nutrientes que foram retirados na colheita.

Note que não há valores de referência para o nitrogênio (N) no solo. A dose de adubação nitrogenada é definida com base na expectativa de produção da área e no resultado da análise foliar.

3. Eficiência da Adubação

A eficiência da adubação depende da fonte do adubo, do modo e da época de aplicação. O cálculo exato é complexo, mas podemos usar valores práticos de referência:

  • Nitrogênio (N): A eficiência da adubação química é de cerca de 50%. Isso significa que, de cada 100 kg aplicados, a planta aproveita apenas 50 kg.
  • Potássio (K): A eficiência é maior, em torno de 70%.
  • Fósforo (P): A eficiência é a mais baixa, geralmente menor que 20%.

Adubos de liberação lenta, com inibidores, ou adubos orgânicos podem, em alguns casos, aumentar essa eficiência por liberarem os nutrientes aos poucos. No entanto, isso nem sempre se traduz em maior produtividade ou lucro. Desconfie sempre de “produtos milagrosos” e foque nos fundamentos.

Adubação para Café em Diferentes Fases

As recomendações de adubação no plantio já foram detalhadas no nosso artigo “Todas as recomendações para o melhor plantio do café”. Agora, vamos focar na adubação de formação (para plantas jovens) e na adubação de produção.

As tabelas de recomendação são excelentes guias, mas o melhor ajuste vem com o conhecimento da sua área. Ao observar o histórico da lavoura e sua resposta à adubação, você pode refinar as doses para a sua realidade específica.

O segredo é fornecer os nutrientes certos, na dose correta e na época em que a planta mais precisa. Vamos assumir que a calagem e a gessagem já foram feitas corretamente, corrigindo o pH do solo e fornecendo cálcio (Ca) e enxofre (S).

Adubação para Cafeeiros em Formação

Cafeeiros em formação estão focados em crescer, desenvolvendo suas raízes e a parte aérea (galhos e folhas). Nesta fase, a exigência de nutrientes é menor e diferente de uma lavoura que já está produzindo.

primeiro plano uma muda de café jovem e saudável, com folhas verdes brilhantes, recém-plantada em solo aver Cafeeiro em formação (Fonte: Arquivo do autor)

Neste estágio, três nutrientes são cruciais e devem ser aplicados via solo para melhor aproveitamento:

  • Fósforo (P), Cálcio (Ca) e Boro (B): Essenciais para o bom desenvolvimento das raízes.
  • Nitrogênio (N): Fundamental para o crescimento vegetativo (folhas e galhos).

A adubação de formação acontece desde o pós-plantio até o primeiro ano produtivo do cafeeiro e costuma ser concentrada no período das chuvas.

uma tabela técnica intitulada ‘Recomendação para adubação de café - Novo Boletim 100’, focada em cafeeiros em

Adubação para Cafeeiro em Produção

Um cafeeiro em produção tem uma demanda nutricional muito maior. Como referência, para cada saca de café produzida, a planta precisa de 6,2 kg de N, 0,6 kg de P e 5,9 kg de K para sustentar seu ciclo vegetativo e a frutificação.

close-up detalhado de um galho de cafeeiro, carregado com cachos de frutos de café ainda verdes, na fase de Cafeeiro em produção plena (Fonte: Arquivo do autor)

Para definir as doses, a regra é:

  • Nitrogênio (N): A dose é baseada na produção esperada e na análise foliar.
  • Fósforo (P) e Potássio (K): A dose é definida pela análise de solo e também pela produção esperada.

uma tabela técnica detalhada intitulada ‘Recomendação para adubação de café - Novo Boletim 100’, focada em caf

Guia de Macro e Micronutrientes para Café

Nitrogênio (N)

Uma regra prática importante: até o final de janeiro, você deve ter aplicado cerca de 70% de todo o Nitrogênio planejado para a safra.

A aplicação deve ser parcelada, começando antes da florada principal para apoiar o novo ciclo de crescimento e continuando até a fase de granação dos frutos. Para evitar perdas por volatilização (quando o N vira gás e se perde na atmosfera), dê preferência ao nitrato de amônio em vez da ureia.

As doses variam conforme a produtividade esperada, como mostra a tabela acima.

Fósforo (P)

O fósforo é pouco retirado do solo pela colheita: apenas 60 gramas por saca produzida. Por isso, sua maior importância é no plantio e na formação do cafezal, pois ele é essencial para o crescimento das raízes.

Se os teores de P no seu solo já estão na faixa adequada, basta repor o que a colheita exportou. A conta é a seguinte:

Adubação P (kg/ha) = (Sacas/ha produzidas) x (0,06 kg de P/saca) / (0,20 de eficiência)

Se os teores estiverem baixos, primeiro faça uma adubação corretiva para elevar os níveis até a faixa adequada (entre 15 e 30 mg/kg). Depois de corrigido, siga a adubação de manutenção com a fórmula acima.

Para a correção e instalação da lavoura, use fontes menos solúveis de fósforo. Para cafés em produção, fontes mais solúveis como Super Simples, Super Triplo, MAP ou DAP são mais indicadas.

Potássio (K)

A maior demanda de potássio ocorre entre a floração e a formação dos frutos. Portanto, quando a florada começar, já deve haver potássio disponível no solo para a planta.

A primeira parcela de K deve ser aplicada antes da florada, e as aplicações seguintes devem continuar até a granação. Em solos arenosos, parcele mais a adubação, pois o risco de lixiviação (perda do nutriente levado pela água) é maior.

Atenção: Mantenha a relação entre Potássio (K) e Magnésio (Mg) no solo em 2:1. Doses muito altas de K podem causar inibição de absorção, ou seja, impedir que a planta absorva o Mg, mesmo que ele esteja presente no solo.

Uma excelente fonte orgânica de Potássio (e também Nitrogênio) é a palha do café. Utilizar esse resíduo na adubação pode ser uma ótima alternativa.

Micronutrientes

Os micronutrientes que mais exigem atenção no café são o boro (B) e o zinco (Zn).

  • Zinco (Zn): As doses variam de 1 a 4 kg/ha, aplicados entre outubro e março. A quantidade exata depende da cultivar e da análise foliar.
  • Boro (B): Deve ser aplicado via solo. Recomenda-se de 2 a 3 aplicações de 1 kg/ha de B ao longo do ciclo. Se usar ácido bórico, ele pode ser aplicado junto com a calda de herbicidas. A aplicação foliar de boro serve apenas para correções emergenciais, pois ele não se move dentro da planta. A aplicação correta é sempre via solo.

Adubação em Café Sombreado: Muda Alguma Coisa?

A adubação para cafés cultivados à sombra deve ser a mesma que a de cafés a pleno sol? A resposta é: depende do nível de sombreamento.

Pesquisas mostram que, com um sombreamento de até 30%, a produção do café é muito similar à do cultivo a pleno sol. Nesse caso, a necessidade de nutrientes e a adubação seriam praticamente as mesmas.

Para níveis de sombra maiores que 30%, a situação muda. Com menos luz, a planta diferencia menos gemas florais, o que resulta em menor produção de frutos. Além disso, menos luz significa menos fotossíntese, gerando menos energia para a planta crescer e absorver nutrientes como o Nitrogênio.

Portanto, se você usar a mesma dose de um cultivo a pleno sol em um cafezal muito sombreado, estará aplicando adubo em excesso e perdendo dinheiro, especialmente com o Nitrogênio. A dose deve ser ajustada para baixo, de acordo com as características da sua lavoura sombreada.

Planilha de Cálculo de Adubação para Café

Para facilitar seus cálculos de adubação, criamos uma planilha baseada nas recomendações do Novo Boletim 100 do IAC. Com ela, você pode inserir os dados de suas análises de solo e foliar, junto com a produtividade esperada, e obter automaticamente as doses recomendadas para lavouras em produção.

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Conclusão

A adubação para café é um processo técnico que deve ser guiado por dados da planta, do solo e pelo histórico de produção e manejo da sua área.

Para obter a maior eficiência no uso de adubos e alcançar uma melhor produção, é fundamental suprir a exigência nutricional do cafeeiro na quantidade e na época certas. Lembre-se que cada sistema de produção pode exigir uma abordagem diferente.

Use as tabelas de adubação como um guia inicial, mas sempre ajuste as recomendações à realidade e às necessidades específicas da sua propriedade.


Glossário

  • Adubação de Correção: Aplicação de nutrientes para elevar os teores do solo que estão abaixo do nível considerado adequado para a cultura. É realizada para corrigir uma deficiência existente na área antes de iniciar o manejo de manutenção.

  • Adubação de Reposição: Aplicação de fertilizantes com o objetivo de devolver ao solo apenas a quantidade de nutrientes que foi extraída pela colheita. É feita quando os níveis de nutrientes no solo já estão na faixa ideal.

  • Análise Foliar: Exame laboratorial das folhas do cafeeiro para diagnosticar seu estado nutricional. Funciona como um “exame de sangue” da planta, indicando se ela está absorvendo os nutrientes do solo de forma adequada.

  • Biomassa: Refere-se a todo o material orgânico que compõe a planta, incluindo folhas, galhos, raízes e frutos. A quantidade de biomassa produzida está diretamente ligada à necessidade de nutrientes do cafezal.

  • Inibição de Absorção: Fenômeno em que o excesso de um nutriente no solo impede que a planta absorva outro. O artigo cita como exemplo altas doses de Potássio (K) que podem dificultar a absorção de Magnésio (Mg).

  • Lixiviação: Processo de perda de nutrientes no solo, que são “lavados” e carregados para camadas mais profundas pela água da chuva ou irrigação. É um problema mais comum em solos arenosos e com nutrientes móveis, como o Potássio.

  • Volatilização: Perda de Nitrogênio (N) para a atmosfera na forma de gás amônia. Ocorre principalmente com fertilizantes como a ureia quando aplicados na superfície do solo em condições de alta temperatura e umidade.

Como a tecnologia simplifica a gestão da adubação

Acertar na adubação do café, como vimos, é um processo técnico que exige o acompanhamento de dados de solo, folha e histórico produtivo. No entanto, um dos maiores desafios é conectar essas informações com o controle de custos e garantir que o investimento em fertilizantes está gerando o máximo de retorno.

Um software de gestão agrícola como o Aegro resolve exatamente isso. Ele permite registrar cada aplicação de adubo, controlar o estoque de insumos e, o mais importante, analisar o custo por saca produzida em cada talhão. Dessa forma, o produtor transforma as recomendações técnicas em decisões financeiras inteligentes, ajustando o manejo com base no histórico de produtividade e rentabilidade da própria fazenda.

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Perguntas Frequentes

Qual a principal diferença entre adubação de correção e de reposição no cafezal?

A adubação de correção é feita quando a análise de solo mostra que os níveis de um nutriente estão abaixo do ideal. O objetivo é ‘corrigir’ essa deficiência, elevando o teor do nutriente no solo até a faixa adequada. Já a adubação de reposição ocorre quando o solo já está com níveis adequados, e o objetivo é apenas devolver os nutrientes que foram extraídos pela colheita, mantendo o equilíbrio.

Por que a análise de solo não é usada para definir a dose de nitrogênio (N) no café?

O nitrogênio é um nutriente muito dinâmico e seus teores no solo variam rapidamente, tornando a análise de solo pouco confiável para ele. Por isso, a recomendação de N é baseada em fatores mais estáveis: a necessidade da planta, calculada pela expectativa de produção (sacas/ha), e o estado nutricional atual, verificado pela análise foliar.

Qual o melhor momento para aplicar potássio (K) e por que o parcelamento é importante?

A maior demanda de potássio ocorre entre a florada e a formação dos frutos. Portanto, a primeira aplicação deve ser feita antes do início da florada. O parcelamento das doses é crucial, principalmente em solos arenosos, para evitar perdas por lixiviação (quando o nutriente é ’lavado’ pela chuva), garantindo que ele esteja disponível para a planta durante toda a fase crítica.

É realmente necessário adubar o cafezal em anos de safra baixa?

Sim, a adubação ainda é necessária, mas as doses devem ser ajustadas. Em anos de safra baixa, a planta foca mais no crescimento vegetativo (folhas e ramos) do que na produção de frutos. A adubação deve suprir essa demanda menor, garantindo que a planta se prepare bem para a próxima safra, mas evitando o desperdício de fertilizantes.

A análise foliar pode substituir a análise de solo na adubação do café?

Não, elas são ferramentas complementares e não substitutas. A análise de solo mostra o que está disponível para a planta na ‘despensa’ (o solo), sendo essencial para P e K e para a calagem. A análise foliar mostra o que a planta está ‘comendo’ de fato, ou seja, o que ela conseguiu absorver, sendo fundamental para o ajuste fino do N e micronutrientes.

Por que o boro (B) deve ser aplicado via solo e não via foliar no café?

O boro tem baixíssima mobilidade dentro do cafeeiro. Quando aplicado nas folhas, ele não consegue se deslocar para outras partes da planta que precisam dele, como as raízes e os novos pontos de crescimento. A aplicação via solo garante que o nutriente seja absorvido pelas raízes e distribuído por toda a planta de forma eficiente.

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