Em grande parte dos solos brasileiros, a quantidade de fósforo que as plantas conseguem aproveitar é naturalmente baixa. Isso torna a adubação fosfatada uma prática indispensável para quem busca extrair o máximo potencial produtivo da lavoura.
Entender qual fertilizante usar, quando e como aplicá-lo corretamente é o que define uma adubação eficiente. Neste guia, vamos detalhar tudo sobre o fornecimento de fósforo para as suas culturas, ajudando você a tomar as melhores decisões. Boa leitura!
Entendendo o Comportamento do Fósforo no Solo
Solos tropicais, em geral, possuem baixa fertilidade natural devido ao alto intemperismo: significa o desgaste intenso do solo pela chuva e pelo clima ao longo do tempo. Além disso, eles têm uma alta capacidade de retenção de fósforo: o solo “prende” o nutriente, não deixando que ele fique livre para a planta.
Na prática, isso acontece porque o fósforo se “agarra” a partículas de argila e a compostos como óxidos de ferro e alumínio. O nutriente também pode se precipitar: formar compostos sólidos com alumínio, ferro e cálcio, ficando “travado” e indisponível para ser absorvido pelas raízes das plantas.
Em outras palavras, existe uma competição direta entre o solo e as plantas pelo fósforo que você aplica na adubação.
Para que as plantas recebam a quantidade de fósforo que precisam, é necessário primeiro “abastecer” os componentes do solo que consomem esse elemento. É por isso que, muitas vezes, aplicamos grandes quantidades de adubos fosfatados, mesmo que a cultura exija doses menores para o seu desenvolvimento.
O pH do solo é outro fator crucial que interfere na disponibilidade do fósforo. A calagem (aplicação de calcário) é uma prática muito importante, pois ela reduz a fixação do fósforo no solo e, consequentemente, aumenta a eficiência da sua adubação.
O ideal é que o fósforo esteja mais disponível em solos com pH entre 5,5 e 6,5.
Resumindo, a disponibilidade de fósforo para as plantas será menor em solos que apresentam estas características:
- Alta presença de óxidos de ferro e alumínio;
- Maior acidez (pH baixo);
- Textura mais argilosa;
- Maior grau de intemperismo.
Agora que você entendeu como o fósforo se comporta, vamos conhecer os principais tipos de fertilizantes disponíveis.
Principais Fertilizantes Fosfatados
O mercado oferece diversas fontes de fósforo para a agricultura. Conhecer as características de cada um desses fertilizantes é um passo fundamental para o sucesso da sua lavoura.
Os principais fertilizantes utilizados na adubação fosfatada são:
- Superfosfato triplo (SFT)
- Superfosfato simples (SFS)
- Fosfato monoamônico (MAP)
- Fosfato diamônico (DAP)
- Termofosfato magnesiano
- Fosfatos naturais importados: Gafsa (Tunísia), Arad (Israel) e Bayóvar (Peru)
- Fosfatos naturais nacionais: fosfato de Araxá, fosfato de Patos de Minas e fosfato de Jacupiranga
É importante saber que cada fertilizante possui uma concentração diferente de fósforo, que é expressa em P2O5
(pentóxido de difósforo), a forma como a garantia do nutriente é comercializada.
A tabela abaixo mostra as garantias mínimas que o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) exige para a venda desses fertilizantes.
Especificações mínimas dos fertilizantes minerais simples exigidas pelo MAPA
(Fonte:MAPA)
Quando e Como Aplicar os Fertilizantes Fosfatados
Um dos pontos que mais merece atenção é o momento ideal para realizar a adubação fosfatada.
A recomendação geral é que a aplicação seja feita no momento da semeadura da lavoura. O motivo é simples: o fósforo é um nutriente essencial para o desenvolvimento inicial das raízes e para o bom estabelecimento da cultura no campo.
Os adubos fosfatados podem ser aplicados de duas formas principais:
- Aplicação localizada: diretamente na linha de plantio.
- Aplicação em área total: distribuído a lanço por toda a superfície.
A decisão sobre qual método usar deve considerar vários fatores, como a cultura que será plantada, o tipo de solo da área e o sistema de cultivo adotado (convencional, cultivo mínimo ou plantio direto).
Fertilizantes Fosfatados em Milho e Soja
Em sistemas de cultivos anuais, como é o caso do milho e da soja, a preferência deve ser por fertilizantes mais solúveis em água, como o superfosfato simples e triplo, o MAP e o DAP.
Se você optar por fontes de baixa solubilidade, como os fosfatos naturais, a recomendação é fazer a aplicação a lanço e depois incorporar o produto ao solo. Essa incorporação ajuda a acelerar a solubilização do fertilizante, tornando o fósforo disponível mais rapidamente.
Embora essas culturas não exijam fósforo em quantidades enormes, a deficiência desse nutriente pode comprometer seriamente a produtividade final. No caso específico da soja, o fósforo tem um papel fundamental nos processos de nodulação e na fixação biológica de nitrogênio.
Contudo, é fundamental destacar: a quantidade exata de fósforo e o modo de aplicação devem ser sempre definidos com base na interpretação dos resultados da análise de solo e na necessidade específica da cultura.
Respostas de algumas culturas a doses de fertilizantes fosfatados solúveis em água aplicados a lanço e incorporados em latossolo argiloso do Cerrado, com disponibilidade de fósforo muito baixa
Como Aumentar a Eficiência da Adubação Fosfatada
A eficiência da sua adubação fosfatada está ligada a diversos fatores. Veja os principais pontos para garantir o melhor aproveitamento do nutriente:
Correção da Acidez do Solo: A calagem não só melhora o aproveitamento do fósforo pelas plantas, mas também favorece a atividade dos microrganismos benéficos do solo. O ideal é manter o pH do solo na faixa de 5,5 a 6,5.
Umidade Adequada: O fósforo é absorvido pelas plantas por um processo chamado difusão: o nutriente se move lentamente no solo em direção às raízes. A umidade do solo é fundamental para que essa movimentação aconteça de forma eficiente.
Fertilizantes com Tecnologia: Já existem no mercado fertilizantes com tecnologia de liberação gradual. Eles diminuem as perdas e otimizam a absorção do fósforo pelas plantas, tornando a adubação mais eficaz ao longo do ciclo.
Fonte e Granulometria: A escolha da fonte de fósforo e o tamanho dos grânulos (granulometria) do fertilizante também influenciam na eficiência.
Modo de Aplicação: A forma como o adubo é aplicado faz toda a diferença.
- Aplicação localizada (na linha ou cova): favorece a absorção, pois o fósforo tem baixa mobilidade no solo. Ao depositar o adubo perto das raízes, você facilita a absorção e aumenta a eficiência.
- Aplicação a lanço (em área total): promove a exploração de um volume maior de solo pelo sistema radicular, o que pode ser vantajoso em certas condições.
Em resumo, cada talhão deve ser avaliado individualmente. A decisão final deve sempre levar em conta os aspectos técnicos, econômicos e ambientais da sua propriedade.
Conclusão
Os solos brasileiros, em sua maioria, possuem baixo teor de fósforo disponível para as plantas. Por essa razão, a adubação fosfatada é uma prática fundamental para manter a produtividade da área e garantir o sucesso da safra.
Lembre-se que solos mais ácidos, argilosos e com alta concentração de óxidos de ferro e alumínio tendem a “prender” mais o fósforo, reduzindo sua disponibilidade.
Os adubos mais comuns para fornecer fósforo são o superfosfato triplo e simples, o MAP, o DAP, o termofosfato magnesiano e os fosfatos naturais.
A recomendação geral é que os adubos fosfatados sejam aplicados no momento do plantio, seja na linha ou em área total, devido à importância crucial desse nutriente para o desenvolvimento inicial da lavoura.
Glossário
Calagem: Prática de aplicar calcário no solo para corrigir a acidez (elevar o pH). Essa correção é fundamental para “desbloquear” o fósforo que está preso no solo, tornando-o mais disponível para as plantas.
DAP (Fosfato Diamônico): Tipo de fertilizante mineral rico em fósforo e que também contém nitrogênio. É uma das fontes de fósforo mais utilizadas na agricultura, especialmente por sua alta solubilidade em água.
Difusão: Processo de movimento lento do fósforo no solo, da área de maior concentração (perto do adubo) para a de menor concentração (perto das raízes). A umidade adequada no solo é essencial para que a difusão ocorra eficientemente.
Intemperismo: Processo natural de desgaste e alteração química das rochas que formam o solo, causado pela ação do clima (chuva, temperatura). Solos tropicais, com alto grau de intemperismo, geralmente possuem baixa fertilidade natural.
MAP (Fosfato Monoamônico): Fertilizante mineral muito comum, que fornece fósforo e nitrogênio de forma altamente solúvel. É amplamente utilizado na adubação de plantio de culturas como milho e soja.
P₂O₅ (Pentóxido de Difósforo): Unidade de medida padrão usada para expressar a concentração de fósforo nos fertilizantes. Quando um adubo indica 46% de P₂O₅, significa que a cada 100 kg do produto, 46 kg são desse composto.
pH do solo: Escala que mede o nível de acidez ou alcalinidade do solo, variando de 0 a 14. A faixa de pH ideal para a máxima disponibilidade de fósforo para a maioria das culturas situa-se entre 5,5 e 6,5.
Precipitação (de nutrientes): Reação química em que o fósforo se combina com elementos como ferro, alumínio ou cálcio no solo, formando compostos sólidos e insolúveis. Esse processo “trava” o nutriente, impedindo que as raízes das plantas o absorvam.
Retenção de Fósforo: Fenômeno em que o fósforo fica fortemente “preso” às partículas do solo, como argila e óxidos de ferro e alumínio. Isso diminui a quantidade de nutriente livre para a planta, gerando uma competição direta entre o solo e a cultura.
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Perguntas Frequentes
Por que preciso aplicar tanto adubo fosfatado se a minha cultura exige uma dose menor?
Isso ocorre porque existe uma competição direta pelo fósforo entre o solo e a planta. Solos brasileiros, especialmente os mais argilosos e ácidos, têm alta capacidade de ‘prender’ (fixar) o fósforo. Portanto, é preciso aplicar uma quantidade suficiente para primeiro ‘abastecer’ o solo e depois garantir que sobre nutriente disponível para as raízes da cultura absorverem.
Qual a real importância da calagem para a eficiência da adubação com fósforo?
A calagem é fundamental porque corrige a acidez do solo. Em solos com pH baixo, o fósforo reage com ferro e alumínio, formando compostos insolúveis que a planta não consegue absorver. Ao elevar o pH para a faixa ideal de 5,5 a 6,5, a calagem reduz essa fixação e ‘desbloqueia’ o nutriente, aumentando drasticamente o aproveitamento do fertilizante aplicado.
Qual a melhor forma de aplicar fertilizante fosfatado: na linha de plantio ou a lanço?
A escolha depende do sistema de cultivo e do tipo de solo. A aplicação na linha (localizada) é muito eficiente por concentrar o nutriente perto das raízes, já que o fósforo tem baixa mobilidade. A aplicação a lanço (área total) estimula um maior volume de exploração radicular. A decisão deve sempre considerar a análise de solo e as necessidades da cultura.
Para culturas como soja e milho, é melhor usar fosfatos naturais ou fertilizantes como MAP e DAP?
Para culturas anuais como soja e milho, a preferência é por fertilizantes de alta solubilidade em água, como o MAP (Fosfato Monoamônico) e o DAP (Fosfato Diamônico). Eles disponibilizam o fósforo de forma rápida, o que é crucial para o desenvolvimento inicial das plantas. Fosfatos naturais, por terem liberação lenta, são mais indicados para sistemas de cultivo perenes ou para a correção de base do solo.
O que significa a sigla P₂O₅ que vejo nas embalagens de fertilizantes?
P₂O₅ (Pentóxido de Difósforo) é a unidade de medida padrão utilizada comercialmente para expressar a concentração de fósforo em um fertilizante. Quando um adubo informa ter 46% de P₂O₅, significa que a cada 100 kg do produto, 46 kg correspondem a esse composto que garante a entrega do nutriente fósforo.
Qual o primeiro passo prático para definir a dose correta de fósforo para minha lavoura?
O primeiro e mais importante passo é realizar uma análise de solo completa e bem-feita. Ela indicará os níveis atuais de fósforo disponíveis na sua área, além de outros fatores cruciais como o pH. Apenas com base nesses resultados é possível calcular a dose exata de adubo necessária para atender às exigências da sua cultura e evitar gastos desnecessários.
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