O milho é uma cultura que exige bastante cuidado com a nutrição para alcançar altas produtividades. Uma lavoura bem nutrida responde com espigas cheias e mais peso, seja para a produção de grãos ou para silagem de alta qualidade.
A recomendação de adubação não pode ser feita no “achismo”. Ela precisa considerar dois fatores principais: os nutrientes que já estão disponíveis no solo e a quantidade que a planta vai extrair para crescer e produzir.
Além disso, a exigência nutricional muda dependendo do seu objetivo. O milho para silagem, onde a planta inteira é colhida, “puxa” muito mais nutrientes do solo do que o milho para grãos. Por isso, a adubação para cada finalidade precisa ser diferente.
Neste artigo, vamos mostrar de forma prática como calcular a adubação de milho para suas metas de produção, tanto para grãos quanto para silagem.
A Importância da Cultura do Milho no Brasil
Junto com a soja, o milho representa cerca de 80% de toda a produção de grãos no Brasil. Essa cultura é fundamental para a economia e para a cadeia produtiva do agronegócio.
Na safra 2018/19, a área plantada com o milho safrinha cresceu muito, principalmente na região do Cerrado. Esse crescimento fez com que a produção da safrinha superasse a produção da safra de verão, mostrando a força e a adaptabilidade da cultura.
Mapa da Produção Agrícola – Milho primeira safra
(Fonte: Conab)
Mapa da Produção Agrícola – Milho segunda safra
(Fonte: Conab)
Como Definir a Adubação de Milho Ideal?
A tomada de decisão para a adubação de milho deve ser técnica e baseada em dados concretos. Considere sempre os seguintes critérios:
- Análise de solo: O ponto de partida obrigatório. É ela que mostra o que você já tem de nutrientes na área e se precisa corrigir a acidez.
- Produtividade esperada: Quanto você planeja colher? A quantidade de nutrientes que a planta vai precisar (extração) e a que sairá da área com os grãos ou silagem (exportação) dependem diretamente dessa meta.
- Fenologia da cultura: Conhecer as fases de desenvolvimento do milho é crucial para aplicar os nutrientes na hora certa.
- Histórico da área: O que foi plantado antes? Quais foram as adubações e produtividades anteriores? Essas informações ajudam a ajustar o manejo.
- Aspectos econômicos: O custo dos fertilizantes e o preço de venda do milho definem a viabilidade econômica da adubação.
A análise de solo é o primeiro passo. Ela vai indicar a disponibilidade de nutrientes e a necessidade de calagem: que significa aplicar calcário para corrigir a acidez e melhorar o aproveitamento dos adubos.
A partir daí, trabalhamos com dois tipos de adubação:
- Adubação de Correção: Feita para elevar os níveis de nutrientes que estão muito baixos no solo, construindo a fertilidade da área.
- Adubação de Manutenção: Feita para repor os nutrientes que a cultura do milho vai retirar do solo durante seu ciclo. Este será o nosso foco principal neste artigo.
A exportação de nutrientes não acontece de maneira uniforme. A planta tem “picos” de fome em fases específicas. Por isso, antes de calcular as doses, é fundamental entender o ciclo do milho.
Entendendo o Ciclo e as Fases do Milho
O ciclo do milho é dividido em estádios de desenvolvimento, classificados como vegetativos (V) e reprodutivos (R).
- Entre V6 e V10: Nesta fase, a planta define o potencial do número de fileiras por espiga. É um período de alta demanda e absorção de nutrientes.
- No estádio V12: A disponibilidade de nutrientes aqui é decisiva. A planta define o tamanho da espiga e o número de grãos por fileira, confirmando o potencial produtivo da lavoura.
- Estádio VT: É quando o pendão aparece, marcando a transição da fase vegetativa para a reprodutiva.
Atenção a este dado: Cerca de 63% de todo o Nitrogênio (N) e 80% do Potássio (K) que a planta vai usar são absorvidos antes do pendoamento (estádio VT).
Isso deixa claro que os nutrientes, principalmente N e K, precisam estar disponíveis para a planta desde o início do ciclo vegetativo.
Percentual de N absorvido pela planta, antes e após o florescimento, e percentual de N presente no grão no período da absorção no pós-florescimento (após VT-R1) e fontes remobilizadas. (Fonte: Pioneer)
Exigência Nutricional: Grãos vs. Silagem
No caso do milho, a quantidade de nutrientes que a planta extrai do solo varia muito conforme a finalidade da produção: grãos ou silagem.
A tabela abaixo mostra o acúmulo de nutrientes na planta inteira (parte aérea + grãos) e apenas nos grãos, para cada tonelada de grãos produzida.
(Fonte: dados médios compilados de vários autores)
Quando o milho é colhido para silagem, a planta inteira (parte vegetativa) é removida da área. Isso aumenta muito a quantidade de nutrientes exportada, pois tudo que estava na palha, colmo e folhas também sai do campo.
Por isso, a adubação deve ser ajustada de acordo com o seu objetivo de produção!
Cálculo da Adubação Nitrogenada (N)
O milho é uma cultura que responde muito bem ao nitrogênio. A demanda é alta: são necessários cerca de 15 kg de N por tonelada de grãos e aproximadamente 23 kg de N por tonelada de matéria seca de silagem.
Para calcular a quantidade de N a ser aplicada, siga estes passos:
- Defina a produtividade esperada e a finalidade da produção (grãos ou silagem).
- Multiplique a produtividade esperada pela extração de N para encontrar a demanda total da planta.
- Considere a cultura anterior. Se você plantou soja antes do milho, os restos culturais da soja podem fornecer cerca de 15 kg de N por tonelada de grãos de soja produzidos. Você pode descontar esse valor da sua necessidade de adubação.
- Leve em conta a eficiência do adubo. A eficiência dos fertilizantes nitrogenados, como a ureia, é de aproximadamente 60%. Isso significa que nem todo N que você aplica será aproveitado pela planta.
Exemplo prático:
- Meta de produtividade: 10 toneladas de grãos/ha.
- Demanda da planta: 10 t/ha * 14,4 kg de N/t (valor da tabela) = 144 kg/ha de N.
- Considerando a eficiência de 60%, a dose a ser aplicada é: 144 kg / 0,60 = 240 kg/ha de N.
- Se for usar ureia (que tem 45% de N), a quantidade de adubo será: 240 kg / 0,45 = 533 kg/ha de ureia.
Recomendação de adubação de manutenção de acordo com a produtividade esperada de grãos
(Fonte: dados médios compilados de vários autores)
Como e quando fazer a adubação de cobertura?
A recomendação atual é aplicar uma parte do N na semeadura (cerca de 50 kg/ha) e o restante em cobertura.
A adubação de cobertura deve começar quando a planta está com 3 a 4 folhas formadas (V3-V4). Dessa forma, o nitrogênio estará disponível na fase seguinte, entre V6 e V10, que é o período de maior exigência, como vimos anteriormente.
A necessidade de parcelar a dose de cobertura depende do tipo de solo, como mostra a tabela abaixo.
Recomendação de adubação nitrogenada de cobertura
(Fonte: Visão Agrícola)
Cálculo da Adubação Fosfatada (P)
Apesar de a planta de milho exigir menos fósforo (P) em comparação com N e K, a adubação fosfatada é fundamental para garantir altas produtividades, principalmente no arranque inicial da cultura.
A recomendação de P é feita com base em dois fatores: o teor de P no solo (indicado na análise) e a extração pela planta.
- Se a análise de solo mostrar que a disponibilidade de fósforo está abaixo do nível adequado, você precisa fazer uma adubação de correção.
- Se o nível estiver adequado, você faz apenas a adubação de manutenção, repondo o que a cultura vai extrair.
Essa dose de fósforo deve ser aplicada inteiramente no sulco de plantio, pois o P tem baixa mobilidade no solo.
Classes de teores de P-resina no solo
(Fonte: Boletim 100-IAC)
Cálculo da Adubação Potássica (K)
O potássio (K) é o segundo nutriente mais exigido pela cultura do milho.
As respostas à aplicação de K têm sido cada vez maiores, especialmente com a intensificação dos cultivos e na rotação soja-milho, já que a soja também exige altos teores de K.
A recomendação de adubação potássica para milho (grão ou silagem) é baseada na disponibilidade de K no solo e na expectativa de produtividade.
(Fonte: Boletim 100-IAC)
Exemplo prático da diferença entre grão e silagem:
Com teores adequados de K no solo e uma meta de 10 ton/ha:
- Para grãos, a extração seria de 43 kg/ha de K₂O.
- Para silagem, a extração saltaria para 200 kg/ha de K₂O.
Ajustar a adubação conforme a finalidade da produção é essencial. Do contrário, a fertilidade do solo pode se esgotar em poucas safras.
Importante: Doses maiores que 50 kg/ha de K₂O
na linha de semeadura podem prejudicar a germinação das sementes por efeito salino. Por isso, doses maiores devem ser parceladas, com parte aplicada em cobertura.
Parcelamento da adubação com potássio
Grande parte do potássio é requerida no começo do ciclo da cultura.
Lembre-se: até o estádio VT (pendoamento), a planta já acumulou cerca de 50% de sua matéria seca e absorveu mais de 80% de sua necessidade total de K.
Portanto, a aplicação do restante da dose de K deve ser feita em pré-semeadura ou em cobertura, sempre antes de a planta entrar no estádio reprodutivo.
Planilha Gratuita para Cálculo da Adubação de Milho
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Como usar a planilha: basta inserir os dados da sua análise de solo para Fósforo (P) e Potássio (K) e a produtividade que você espera alcançar. A planilha faz o resto, calculando a necessidade de adubação tanto para produção de grãos quanto para silagem.
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Conclusão
A adubação do milho é um investimento que, quando bem-feito, traz um retorno excelente. Para não errar, siga sempre estes princípios:
- Parta da análise de solo: Ela é o mapa da sua lavoura e a base para qualquer recomendação.
- Defina sua meta de produção: A quantidade de adubo depende diretamente do quanto você espera colher.
- Conheça as fases da cultura: Aplique os nutrientes nos estádios de maior demanda para garantir o máximo aproveitamento.
- Diferencie adubação de correção e manutenção: Construa a fertilidade do solo se os níveis estiverem baixos; reponha os nutrientes exportados se os níveis estiverem adequados.
- Ajuste a dose para grãos ou silagem: Lembre-se que a silagem exporta muito mais nutrientes e exige uma reposição maior.
Seguindo esses critérios técnicos, você garante que sua lavoura de milho tenha a nutrição necessária para expressar todo o seu potencial produtivo.
Glossário
Adubação de Cobertura: Aplicação de fertilizantes, principalmente nitrogênio e potássio, com a cultura do milho já em desenvolvimento no campo. É feita para suprir a alta demanda por nutrientes em fases críticas, como entre os estádios V6 e V10.
Adubação de Manutenção: Prática de repor no solo a quantidade exata de nutrientes que será retirada pela colheita, seja de grãos ou de silagem. O objetivo é manter os níveis de fertilidade da área para as próximas safras, sem esgotar o solo.
Calagem: Técnica de aplicação de calcário para corrigir a acidez (aumentar o pH) do solo. Um solo corrigido permite que a planta de milho aproveite melhor os nutrientes fornecidos pela adubação.
Estádios Fenológicos (V e R): Escala que classifica as fases de desenvolvimento da planta. Os estádios “V” (vegetativos) são definidos pelo número de folhas (ex: V6 = 6 folhas), enquanto os estádios “R” (reprodutivos) se referem às fases de florescimento e enchimento de grãos.
Extração e Exportação de Nutrientes: Extração é a quantidade total de nutrientes que a planta absorve do solo para seu desenvolvimento completo. Exportação é a parte desses nutrientes que é efetivamente removida da área com o produto colhido (grãos ou silagem), sendo o valor usado para calcular a adubação de manutenção.
Pendoamento (Estádio VT): Fase em que o pendão (a flor masculina do milho) emerge no topo da planta, marcando o início do período reprodutivo. Cerca de 80% do potássio e 63% do nitrogênio já foram absorvidos pela planta antes desta fase.
Safrinha: Refere-se à segunda safra cultivada no mesmo ano agrícola, geralmente semeada após a colheita da cultura de verão (como a soja). No Brasil, o milho safrinha tornou-se a principal janela de produção da cultura.
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Calcular a adubação é o primeiro passo, mas garantir a execução dentro do orçamento é o que define a lucratividade da safra. Controlar o custo dos fertilizantes e planejar as aplicações de cobertura para que ocorram na fase certa são desafios constantes na gestão da lavoura.
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Perguntas Frequentes
Por que a adubação para milho silagem é tão diferente da adubação para grãos?
A diferença é crucial porque na produção de silagem a planta inteira (colmo, folhas e espiga) é removida da área, exportando uma quantidade muito maior de nutrientes, especialmente Potássio (K). Na colheita de grãos, a maior parte dos nutrientes fica na palhada, retornando ao solo. Portanto, a adubação de reposição para silagem precisa ser significativamente maior para não esgotar a fertilidade do solo.
Posso pular a análise de solo e usar uma recomendação padrão de adubação para milho?
Não é recomendado. Usar uma recomendação padrão sem análise de solo é como tomar um remédio sem diagnóstico: você pode gastar dinheiro aplicando nutrientes que o solo já tem em excesso ou, pior, deixar de aplicar o que realmente falta, limitando sua produtividade. A análise é o único guia seguro para uma adubação eficiente e econômica.
Qual o momento ideal para fazer a adubação de cobertura com nitrogênio (N) e o que acontece se eu atrasar?
O ideal é iniciar a adubação de cobertura quando o milho está entre os estádios V3 e V4 (3 a 4 folhas). Atrasar essa aplicação é arriscado, pois a planta define o potencial produtivo da espiga entre V6 e V12. Se o nitrogênio não estiver disponível nesse período de alta demanda, o tamanho da espiga e o número de grãos podem ser permanentemente reduzidos, impactando diretamente a produtividade final.
É verdade que muito potássio (K) na linha de plantio pode prejudicar as sementes de milho?
Sim, é verdade. Doses elevadas de potássio (acima de 50 kg/ha de K₂O) aplicadas no sulco de plantio podem causar um ’efeito salino’. Isso significa que a alta concentração de sais ‘rouba’ a água da semente, prejudicando a germinação e o desenvolvimento inicial das raízes. Por isso, doses maiores devem ser parceladas ou aplicadas a lanço.
A cultura anterior, como a soja, realmente ajuda a adubar o milho?
Com certeza. A soja, por ser uma leguminosa, fixa nitrogênio do ar no solo. A palhada deixada após a colheita libera gradualmente esse nutriente, podendo fornecer cerca de 15 kg de N por tonelada de grão de soja produzido. Esse valor pode ser descontado da necessidade total de adubação nitrogenada do milho, gerando uma economia significativa de fertilizantes.
Qual a diferença entre adubação de correção e de manutenção?
A adubação de correção é feita quando a análise de solo mostra níveis de nutrientes muito baixos, com o objetivo de ‘construir’ a fertilidade da área para um patamar adequado. Já a adubação de manutenção é realizada em solos com fertilidade adequada, visando apenas repor a quantidade de nutrientes que a cultura do milho irá exportar com a colheita, mantendo o equilíbrio para as próximas safras.
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