Adubação de Cobertura: O Guia Completo para Nutrir sua Lavoura na Hora Certa

Redatora parceira Aegro.
Adubação de Cobertura: O Guia Completo para Nutrir sua Lavoura na Hora Certa

Os nutrientes são essenciais para o bom desenvolvimento de qualquer lavoura. Cada um deles desempenha um papel fundamental nas plantas, sendo necessários durante todo o ciclo da cultura para garantir uma colheita produtiva.

A adubação realizada antes do plantio é crucial para disponibilizar os nutrientes desde o início. No entanto, alguns elementos, como o nitrogênio e o potássio, são exigidos em maiores quantidades. Se aplicados de uma só vez na semeadura, podem causar problemas como a queima de sementes ou perdas por lixiviação.

Neste artigo, vamos detalhar como a adubação de cobertura resolve esse desafio, explicando quais nutrientes são mais utilizados, as culturas que mais se beneficiam e o momento certo para cada aplicação.

Qual a diferença entre adubação de base e de cobertura?

Para entender a adubação de cobertura, primeiro precisamos diferenciá-la da adubação de base ou de fundação. Ambas são importantes, mas servem a propósitos distintos no manejo da fertilidade.

  • Adubação de Base (ou Fundação): É a aplicação de fertilizantes realizada no sulco de plantio ou antes dele. Seu objetivo é fornecer os nutrientes necessários para o arranque inicial da cultura, principalmente aqueles com baixa mobilidade no solo, como o fósforo. Geralmente, utiliza-se a fórmula [NPK]: sigla para Nitrogênio, Fósforo e Potássio, os macronutrientes primários.

  • Adubação de Cobertura: É a aplicação de fertilizantes feita com a cultura já em desenvolvimento no campo. Ela serve para complementar a nutrição nos momentos de maior demanda da planta, repondo nutrientes que são facilmente perdidos ou que são necessários em grandes volumes ao longo do ciclo.

Essa prática é especialmente recomendada quando os níveis de nutrientes no solo estão abaixo do ideal ou em áreas sem um histórico detalhado de análises de solo. Nesses casos, a cobertura ajuda a manter um padrão nutricional seguro para a cultura, embora não substitua a necessidade de uma análise de solo bem-feita.

Como Definir a Estratégia de Adubação?

A decisão de como e quanto adubar, dividindo as doses entre base e cobertura, deve ser técnica. O parcelamento da adubação depende de três fatores principais:

  1. Análise do Solo: Informa o que já está disponível no solo, evitando gastos desnecessários.
  2. Produtividade Esperada: Lavouras com maior potencial produtivo exigem mais nutrientes.
  3. Teor de Argila no Solo: Solos mais argilosos retêm melhor os nutrientes, enquanto os arenosos são mais propensos a perdas e exigem maior parcelamento.

Com base nessas informações, define-se a quantidade total de nutrientes. Quando essa quantidade é muito alta para ser aplicada de uma só vez na base, a adubação de cobertura se torna a solução ideal.

Quais são os nutrientes mais aplicados em cobertura?

A adubação de cobertura foca em nutrientes que são mais móveis no solo ou que a planta absorve em grandes quantidades durante estágios específicos de crescimento. Os dois principais são o Nitrogênio e o Potássio.

Nitrogênio (N)

O nitrogênio é o nutriente mais comum na adubação de cobertura. Por ser muito móvel no solo, ele pode ser facilmente perdido pela [lixiviação]: processo em que a água da chuva ou irrigação “lava” o nutriente para camadas mais profundas do solo, fora do alcance das raízes. Parcelar a aplicação de nitrogênio garante que ele esteja disponível nos momentos de maior necessidade da planta, como no perfilhamento e no enchimento de grãos, aumentando a eficiência do fertilizante.

Potássio (K)

O potássio também é frequentemente aplicado em cobertura, especialmente em solos com baixa capacidade de retenção de nutrientes, como os [solos arenosos]: solos com alta concentração de areia, que não seguram bem água e nutrientes. Quando a análise de solo recomenda doses elevadas de potássio, aplicá-lo todo na base pode causar salinidade excessiva no sulco, prejudicando a germinação das sementes. O parcelamento evita esse problema e supre a demanda da planta, que é alta durante a fase de enchimento de grãos.

E o Fósforo (P) e os Micronutrientes?

O [fósforo]: nutriente essencial para energia e desenvolvimento de raízes, é pouco utilizado em cobertura devido à sua baixa mobilidade no solo. Se aplicado na superfície, ele tende a ficar concentrado ali, sem alcançar as raízes. Por isso, sua aplicação é mais eficiente quando feita na adubação de base, no sulco de plantio.

Já os [micronutrientes]: nutrientes necessários em pequenas quantidades, como Boro, Zinco e Manganês, podem ser aplicados após o estabelecimento da cultura, mas a via mais comum é a [adubação foliar]: aplicação de nutrientes diretamente nas folhas, através de pulverização, que garante uma absorção mais rápida e direta.

Principais culturas que recebem adubo de cobertura

Antes de aplicar o adubo em cobertura, é fundamental considerar alguns fatores já no planejamento da safra:

  • Teor de nutrientes revelado na análise de solo;
  • Expectativa de produção da lavoura;
  • Textura do solo (arenoso ou argiloso);
  • Teor de matéria orgânica;
  • Demanda nutricional específica da cultura;
  • Previsão do clima (chuvas após a aplicação são ideais para incorporar o adubo);
  • Quantidade total a ser aplicada.

A seguir, veja as recomendações específicas para as principais culturas anuais.

Trigo

No trigo, a adubação de base com nitrogênio costuma ser limitada a 20 kg por hectare. O restante da necessidade da cultura é aplicado em cobertura. A aplicação deve ser feita entre o [perfilhamento]: fase em que a planta de trigo emite novos brotos a partir da base e o [alongamento do colmo]: período de crescimento vertical do caule principal. Essa estratégia garante que o nutriente esteja disponível para a definição do número de espigas e grãos.

infográfico detalhado sobre o ‘Manejo de Nitrogênio’ em culturas de cereais, como o trigo. Ela ilustra visualme Fases de desenvolvimento do trigo (Fonte: Mais soja)

Feijão

Diferente da soja, o feijão precisa de adubação de cobertura com nitrogênio para atingir seu potencial produtivo. A maior demanda por este nutriente ocorre entre 35 e 50 dias após o início do ciclo fenológico do feijão, durante o florescimento.

Embora a nodulação forneça parte do nitrogênio, ela só se torna mais efetiva após 35 dias. Por isso, a recomendação é:

  1. Aplicação na Semeadura: Utilizar cerca de ⅓ da dose total recomendada.
  2. Aplicação em Cobertura: Aplicar o restante entre 25 e 30 dias após a emergência das plantas.

As doses totais de nitrogênio podem variar de 40 kg/ha a 120 kg/ha, dependendo da cultivar, tipo de solo e teor de matéria orgânica.

Como e quando fazer adubação de cobertura no milho?

A adubação de base do milho é feita com NPK, mas a maior parte do nitrogênio é fornecida em cobertura. Este é um momento crítico, pois é entre os estágios [V2 e V4]: fases em que a planta de milho tem de 2 a 4 folhas completamente desenvolvidas que o potencial produtivo da espiga é definido.

infográfico detalhado sobre a fenologia da cultura do milho, ilustrando as diferentes fases de desenvolvimento Ciclo fenológico da cultura do milho (Fonte: Geagra)

  • Nitrogênio (N): As fontes mais comuns são o sulfato de amônia e a ureia agrícola. Fertilizantes mais tecnológicos, como os de liberação controlada, também são uma ótima opção para reduzir perdas.
  • Potássio (K): Se a dose recomendada for baixa, pode-se aplicar 100% na base. Contudo, em solos que exigem grandes quantidades ou em períodos de seca após a semeadura do milho, o ideal é aplicar no máximo 60 kg/ha de K₂O na base. O restante deve ser aplicado em cobertura, junto com o nitrogênio, até 30 dias após a semeadura.

Soja

Na soja, a adubação de cobertura foca no potássio. O nitrogênio é fornecido principalmente pela fixação biológica de bactérias presentes nos nódulos das raízes.

A demanda por potássio na soja é intensa e se estende até a fase de enchimento de grãos. Para evitar danos na germinação por excesso de sal no sulco, a recomendação é:

  • Aplicar no máximo 50 kg/ha de potássio na semeadura.
  • Aplicar o restante da dose em cobertura, até 30 dias após a semeadura.

Uma prática crescente tem sido a aplicação de potássio a lanço antes mesmo da semeadura, que pode substituir a aplicação em cobertura e garantir a disponibilidade do nutriente durante todo o ciclo.

banner para baixar a planilha de cálculo de fertilizantes para milho e soja

Conclusão

A adubação de cobertura é uma ferramenta estratégica que exige um bom planejamento, a ser feito antes mesmo do plantio. A decisão de parcelar os nutrientes deve ser baseada em dados técnicos da sua área, considerando a análise de solo, a cultura e a meta de produtividade.

Siga sempre as recomendações técnicas para cada cultura e não hesite em procurar o auxílio de um engenheiro agrônomo. Esse cuidado é fundamental para garantir a máxima eficiência dos fertilizantes, evitar perdas e construir uma lavoura de alta produtividade.


Glossário

  • Adubação de base (ou Fundação): Aplicação de fertilizantes realizada no sulco de plantio ou antes dele. Seu objetivo é fornecer os nutrientes necessários para o arranque inicial da cultura, principalmente aqueles com baixa mobilidade no solo, como o fósforo.

  • Adubação de cobertura: Aplicação de fertilizantes com a cultura já em desenvolvimento no campo. É uma prática para complementar a nutrição nos momentos de maior demanda da planta, repondo nutrientes móveis como nitrogênio e potássio.

  • Adubação foliar: Técnica de pulverização de nutrientes líquidos diretamente sobre as folhas das plantas. Garante uma absorção rápida e é frequentemente utilizada para a aplicação de micronutrientes.

  • Lixiviação: Processo em que a água da chuva ou irrigação “lava” os nutrientes solúveis do solo, levando-os para camadas mais profundas, fora do alcance das raízes. É uma das principais causas de perda de nitrogênio.

  • NPK: Sigla para Nitrogênio (N), Fósforo (P) e Potássio (K), os três macronutrientes primários essenciais para as plantas. As formulações de fertilizantes (ex: 04-14-08) indicam a porcentagem de cada um desses elementos.

  • Perfilhamento: Estágio de desenvolvimento de gramíneas (como trigo e milho) em que a planta emite novos brotos (perfilhos) a partir de sua base. É uma fase crítica que influencia diretamente o número de espigas e o potencial produtivo da lavoura.

  • Solos arenosos: Tipo de solo com alta concentração de partículas de areia, o que resulta em baixa capacidade de retenção de água e nutrientes. Nesses solos, a adubação parcelada (em cobertura) é crucial para evitar perdas por lixiviação.

  • V2 e V4 (Estágios fenológicos do milho): Fases do desenvolvimento vegetativo do milho, onde “V” significa vegetativo e o número indica a quantidade de folhas totalmente desenvolvidas. Entre os estágios V2 (duas folhas) e V4 (quatro folhas), a planta define o potencial de produção da espiga.

Como otimizar o planejamento e o custo da sua adubação

O sucesso da adubação de cobertura depende de um planejamento que transforma dados técnicos — como análise de solo e metas de produtividade — em ações precisas no campo. Gerenciar esse cronograma de aplicações e, ao mesmo tempo, controlar os altos custos com fertilizantes é um dos maiores desafios da safra. Um software de gestão agrícola como o Aegro centraliza essas informações, permitindo que você planeje cada etapa da adubação e acompanhe os custos por talhão em tempo real. Assim, fica mais fácil garantir que cada real investido em nutrientes contribua para o resultado esperado, sem desperdícios.

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Perguntas Frequentes

Qual a diferença principal entre adubação de base e de cobertura?

A adubação de base é feita no momento do plantio, focando em fornecer nutrientes para o arranque inicial da cultura, como o Fósforo. Já a adubação de cobertura é realizada com a planta em desenvolvimento, para repor nutrientes de alta demanda e mobilidade, como Nitrogênio e Potássio, nos estágios em que a cultura mais precisa deles.

Por que não posso aplicar todo o Nitrogênio e Potássio de uma vez só no plantio?

Aplicar doses elevadas desses nutrientes no sulco de plantio pode causar salinidade excessiva, o que prejudica a germinação e pode “queimar” as sementes. Além disso, o Nitrogênio, por ser muito móvel, pode ser perdido por lixiviação (lavagem pela chuva) antes que a planta o absorva, gerando desperdício de fertilizante e prejuízo financeiro.

Em que tipo de solo a adubação de cobertura é mais importante?

A adubação de cobertura é especialmente crucial em solos arenosos. Por terem baixa capacidade de reter nutrientes e água, esses solos são muito mais suscetíveis a perdas por lixiviação. O parcelamento da adubação garante que os nutrientes sejam aplicados em doses menores e mais frequentes, aumentando a eficiência e o aproveitamento pela planta.

Por que o Fósforo (P) geralmente não é usado na adubação de cobertura?

O Fósforo é um nutriente com baixíssima mobilidade no solo. Se aplicado na superfície em cobertura, ele tende a ficar retido na camada superior, sem alcançar a zona das raízes onde a planta o absorve. Por isso, sua aplicação é muito mais eficiente quando realizada na adubação de base, diretamente no sulco de plantio.

O que acontece se eu errar o momento da aplicação do adubo de cobertura no milho?

Errar o momento da aplicação no milho pode comprometer seriamente o potencial produtivo. A adubação de cobertura de Nitrogênio deve ocorrer até o estágio V4, pois é nesse período que a planta define o número de fileiras de grãos na espiga. Aplicações tardias não conseguem mais influenciar esse potencial, resultando em menor produtividade.

A adubação de cobertura substitui a necessidade de fazer uma análise de solo?

Não, de forma alguma. A análise de solo é a ferramenta essencial que informa as quantidades de nutrientes já disponíveis na área. A adubação de cobertura é uma estratégia de aplicação definida com base nesses dados. Sem a análise, o produtor corre o risco de aplicar doses incorretas, gastando mais que o necessário ou limitando a produtividade da lavoura.

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