Adubação com Silício: O Guia para Proteger e Fortalecer Sua Lavoura

Sou engenheira-agrônoma e mestra em agronomia, com ênfase em produção vegetal, pela Universidade Federal de Goiás.
Adubação com Silício: O Guia para Proteger e Fortalecer Sua Lavoura

O sucesso de uma safra depende diretamente do manejo correto de fatores como a adubação. Uma fertilização bem planejada traz inúmeros benefícios para o desenvolvimento das plantas, e um nutriente que vem ganhando destaque é o silício.

A adubação com silício mostra resultados impressionantes, principalmente em gramíneas como arroz, cana-de-açúcar, milho e trigo, que são culturas consideradas grandes acumuladoras desse elemento.

Além de ajudar a lavoura a suportar períodos de falta de água, o silício cria uma verdadeira barreira de proteção, aumentando a resistência das plantas contra pragas e doenças.

Quer entender como a adubação com silício pode ser uma ferramenta estratégica para aumentar a produtividade e a resiliência da sua fazenda? Continue a leitura e veja todos os detalhes!

O que é o silício?

O silício é um mineral encontrado naturalmente na maioria dos solos que traz grandes melhorias para o desenvolvimento das plantas. Para se ter uma ideia, os solos brasileiros contêm de 5% a 40% de silício em sua composição.

Apesar de ser comum, a maior parte do silício está presente em ambientes pouco intemperizados: significa solos mais novos, que sofreram menos desgaste pela chuva e pelo tempo. Por outro lado, solos arenosos geralmente têm baixa disponibilidade de silício que a planta consegue absorver.

A capacidade da planta de absorver o silício está diretamente ligada ao pH do solo. Em solos com pH mais elevado (menos ácidos), a quantidade de silício disponível para a planta aumenta, facilitando sua absorção.

As plantas absorvem o silício do solo na forma de ácido silícico (H4SiO4), um processo que ocorre principalmente pelas raízes. No entanto, a aplicação do nutriente pode ser feita tanto via solo quanto via foliar, dependendo da fonte utilizada.

Quais são as fontes de silício para as plantas?

A legislação brasileira que regulamenta fertilizantes e corretivos reconhece a adubação com silício como uma prática benéfica para as culturas agrícolas.

Este elemento pode ser encontrado em produtos puros (isolado) ou misturado com outros nutrientes. Entre os materiais mais comuns usados como fonte de silício, destacam-se:

  • Escórias da indústria siderúrgica;
  • Metassilicato de cálcio;
  • Termofosfato;
  • Wollastonita;
  • Silicato de potássio;
  • Silicato de cálcio;
  • Silicato de magnésio.

Para exemplificar, o silicato de cálcio é um adubo aplicado diretamente no solo, enquanto o silicato de potássio é um conhecido fertilizante foliar.

É importante notar também que o silicato de sódio, muito usado na agricultura convencional, é uma substância liberada para uso na produção de orgânicos, ampliando suas possibilidades de aplicação.

A importância da adubação com silício na prática

Diversas pesquisas científicas já comprovaram a importância do silício para fortalecer a relação entre a planta e o ambiente.

O silício age como um protetor, deixando a lavoura mais resistente a estresses bióticos (ataques de pragas e doenças) e abióticos (problemas climáticos como seca, salinidade no solo e estresse por calor).

Silício no controle de pragas e doenças

Quando a planta absorve o silício, ele é depositado na camada externa das folhas (epiderme) e nos colmos, que se tornam mais espessos e rígidos. Esse acúmulo funciona como uma barreira física, uma verdadeira “armadura” que dificulta tanto a picada de insetos sugadores quanto a penetração de fungos que causam doenças.

uma tabela informativa que relaciona diversas culturas agrícolas com suas respectivas pragas e as referências Pragas controladas com a utilização de silício em diversas culturas (Fonte: International Plant Nutrition Institute)

Além da proteção física, o silício ativa os mecanismos de defesa naturais da planta. Ele estimula a produção de substâncias como compostos fenólicos, enzimas e o acúmulo de lignina.

Para entender melhor:

  • Compostos fenólicos: são substâncias de defesa natural da planta, que combatem infecções.
  • Lignina: é um composto que endurece a parede das células, funcionando como o “cimento” que dá rigidez à planta.

Essa resposta interna da planta atrapalha o desenvolvimento de agentes fitopatogênicos (micróbios que causam doenças, como fungos e bactérias), protegendo a lavoura de dentro para fora.

uma tabela informativa e bem estruturada, dividida em três colunas: ‘Cultura’, ‘Doença’ e ‘Referência’. O cont Efeito do silício na supressão de doenças fúngicas em grandes culturas e hortaliças (Fonte: International Plant Nutrition Institute)

Outro benefício importante é a melhora na arquitetura foliar. Com o silício, as folhas ficam mais eretas. Isso permite uma melhor penetração da luz solar no dossel (conjunto de folhas) da lavoura, evitando que as folhas de cima façam sombra nas de baixo.

O resultado é uma melhora na capacidade de fotossíntese, o que gera mais energia para a planta e, consequentemente, aumenta a produtividade. Esse enrijecimento das células também reduz o risco de acamamento das plantas.

Silício na correção da acidez do solo

Fontes como o silicato de cálcio e o silicato de magnésio têm uma dupla função: além de fornecer silício, elas também servem para corrigir a acidez do solo.

As escórias siderúrgicas (subprodutos da indústria de ferro e aço) também são muito utilizadas na agricultura com essa finalidade. Elas atuam de forma semelhante ao calcário, aumentando a saturação por bases (V%) e a capacidade de troca de cátions (CTC do solo), dois indicadores chave de fertilidade.

Para entender melhor:

  • Saturação por bases (V%): é um indicador da fertilidade, mostrando a proporção de nutrientes bons (cálcio, magnésio, potássio) no solo.
  • Capacidade de troca de cátions (CTC): é como a “caixa d’água” de nutrientes do solo. Quanto maior a CTC, mais nutrientes o solo consegue reter e disponibilizar para as plantas.

Atenção: Ao utilizar escórias, é fundamental garantir que o material não contenha contaminantes, principalmente metais pesados. Isso é crucial para evitar a contaminação do solo e dos cursos d’água, protegendo todo o ecossistema.

O silício também ajuda a reduzir a toxicidade de elementos como alumínio, manganês e ferro quando presentes em excesso no solo.

Silício e a adubação NPK

Os fertilizantes com silício também ajudam a aumentar a eficiência da tradicional adubação com nitrogênio, fósforo e potássio (NPK).

Como o silício melhora a taxa de fotossíntese, a planta passa a usar o nitrogênio de forma mais eficiente em suas atividades. Além disso, o silício ajuda a aumentar o teor de fósforo disponível no solo e diminui a lixiviação de potássio.

Em outras palavras: Lixiviação é a “lavagem” dos nutrientes do solo pela chuva, que os carrega para camadas mais profundas, fora do alcance das raízes. O silício ajuda a “segurar” o potássio na área certa.

Silício no aumento da resistência à seca e ao sal

Em cenários de falta de água, a adubação com silício ajuda a minimizar os danos.

O espessamento da camada externa da folha, causado pelo silício, reduz a transpiração da planta e a abertura dos estômatos (pequenos poros nas folhas). Isso resulta em uma menor perda de água, fazendo a planta resistir melhor aos períodos de seca.

Em solos com alta salinidade, o silício atua na proteção da parede celular. Ele estimula o sistema antioxidante da planta, que garante a integridade das células, evitando que elas sejam danificadas pelo excesso de sais.

Resumo prático: 10 benefícios da adubação com silício

Vimos todas as vantagens que a adubação com silício pode trazer para a sua lavoura. Aqui está um resumo direto para você considerar essa estratégia:

  1. Maior resistência ao ataque de pragas e doenças;
  2. Aumento da capacidade de fotossíntese devido ao melhor posicionamento das folhas;
  3. Maior resistência ao acamamento;
  4. Ativação de mecanismos de defesa naturais da planta;
  5. Correção da acidez do solo (quando usado em fontes como silicatos de cálcio e magnésio);
  6. Aumento dos teores de cálcio e magnésio disponíveis no solo;
  7. Redução da toxicidade por alumínio, manganês e ferro;
  8. Contribui para a melhoria do estado nutricional geral da planta;
  9. Aumento da resistência à seca (estresse hídrico) e à salinidade;
  10. Aumento da produtividade e da qualidade da colheita.

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Conclusão

O silício é um mineral com um impacto extremamente positivo no desenvolvimento das plantas, especialmente em gramíneas. Sua aplicação, seja via solo ou foliar, se mostra uma ferramenta valiosa.

A adubação com silício é uma estratégia de manejo completa: ela não só melhora a nutrição e corrige o solo, mas também fortalece a lavoura contra os principais desafios do campo, como pragas, doenças, seca e salinidade.

Ao incorporar fontes de silício no seu plano de fertilização, você investe na resiliência da sua cultura, o que se traduz diretamente em maior produtividade e rentabilidade para a sua fazenda.


Glossário

  • Acamamento: Fenômeno em que as plantas, especialmente gramíneas como milho e trigo, dobram ou tombam perto do solo devido a ventos fortes ou ao peso dos grãos. O silício ajuda a enrijecer o colmo (caule), reduzindo esse risco.

  • Ácido silícico (H4SiO4): Forma solúvel de silício que as plantas conseguem absorver do solo através de suas raízes. É o “silício disponível” para a nutrição vegetal.

  • CTC (Capacidade de Troca de Cátions): Refere-se à capacidade do solo de reter e disponibilizar nutrientes essenciais para as plantas, como cálcio, magnésio e potássio. Funciona como uma “caixa d’água” de nutrientes do solo.

  • Estresses abióticos: Fatores ambientais não vivos que podem prejudicar o desenvolvimento das plantas. Exemplos citados no texto incluem seca (falta de água), salinidade e excesso de calor.

  • Estresses bióticos: Danos causados às plantas por organismos vivos. Os principais exemplos são ataques de pragas (insetos) e a infecção por doenças (fungos, bactérias).

  • Fertilizante foliar: Produto nutricional líquido aplicado diretamente sobre as folhas da planta. Essa via de aplicação permite uma absorção mais rápida dos nutrientes em comparação com a adubação via solo.

  • Lixiviação: Processo de “lavagem” dos nutrientes do solo pela água da chuva ou irrigação, que os move para camadas mais profundas, fora do alcance das raízes. Causa a perda de fertilizantes e reduz a fertilidade.

  • Saturação por bases (V%): Indicador da fertilidade do solo que mostra a porcentagem de nutrientes benéficos (cálcio, magnésio e potássio) em relação à capacidade total de retenção do solo (CTC). Solos com V% mais alto são geralmente mais férteis.

Veja como o Aegro pode otimizar sua estratégia com silício

A adubação com silício é uma estratégia poderosa para aumentar a resiliência e a produtividade da lavoura, mas como garantir que esse investimento está trazendo o máximo retorno?

Controlar os custos dos insumos e planejar as aplicações de forma precisa são desafios constantes para o produtor. Um software de gestão agrícola como o Aegro centraliza essas tarefas.

Nele, é possível registrar detalhadamente todos os custos com fertilizantes e defensivos, entendendo o impacto real no custo de produção da safra. Além disso, o planejamento das atividades no campo garante que o manejo contra pragas e doenças, potencializado pelo silício, seja executado com máxima eficiência.

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Perguntas Frequentes

O silício é considerado um nutriente essencial para as plantas como o NPK?

Embora não seja classificado como essencial para todas as plantas como Nitrogênio, Fósforo e Potássio (NPK), o silício é considerado um elemento benéfico. Para culturas acumuladoras, como arroz e cana-de-açúcar, sua presença é fundamental para atingir altos tetos produtivos, pois fortalece a planta contra estresses e otimiza seu desenvolvimento.

Como saber se meu solo precisa de uma adubação com silício?

A forma mais precisa é através da análise de solo, que mede os níveis de silício disponível. Solos muito intemperizados ou arenosos, comuns no Brasil, geralmente são pobres no nutriente. A recorrência de problemas como acamamento, alta pressão de pragas sugadoras e doenças fúngicas também pode ser um forte indicativo da necessidade de suplementação com silício.

Quais as principais culturas que respondem bem à adubação com silício?

As culturas que mais se beneficiam são as gramíneas, por serem acumuladoras naturais do elemento. Destacam-se o arroz, a cana-de-açúcar, o milho, o trigo, o sorgo e as pastagens. No entanto, outras culturas como soja, feijão e hortaliças (ex: pepino e tomate) também mostram respostas positivas, com plantas mais sadias e resistentes.

Qual a diferença entre a aplicação de silício via solo e via foliar?

A aplicação via solo, com fontes como o silicato de cálcio, oferece um fornecimento gradual e de longo prazo, além de atuar como corretivo de acidez. Já a aplicação foliar, com produtos como o silicato de potássio, tem ação mais rápida e é ideal para correções pontuais, fortalecendo a planta em momentos de estresse por pragas, doenças ou condições climáticas adversas.

O uso de silício pode diminuir a necessidade de aplicar defensivos agrícolas?

Sim, ele é um grande aliado no Manejo Integrado de Pragas e Doenças (MIP). Ao criar uma barreira física nas folhas e ativar as defesas naturais da planta, o silício reduz a severidade de ataques de pragas e a infecção por fungos. Isso pode diminuir a frequência e a quantidade de defensivos necessários, gerando economia e um manejo mais sustentável.

Existem riscos ao usar escórias da indústria siderúrgica como fonte de silício?

O principal risco está na possível contaminação por metais pesados, que podem prejudicar o solo e a saúde humana. Por isso, é fundamental utilizar apenas escórias de fornecedores certificados, que garantam a qualidade e a segurança do material para uso agrícola. Quando a fonte é confiável, as escórias são uma excelente opção de baixo custo para fornecer silício e corrigir a acidez do solo.

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