Adubação com Fósforo na Rotação Soja-Arroz: Como Garantir a Fertilidade do Solo

Redação Aegro
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Adubação com Fósforo na Rotação Soja-Arroz: Como Garantir a Fertilidade do Solo

O cultivo de soja em rotação com o arroz irrigado é uma prática cada vez mais comum no Rio Grande do Sul. Essa estratégia traz muitos benefícios para a lavoura de arroz, principalmente ao ajudar a reduzir o banco de sementes de plantas daninhas. Isso inclui o controle do arroz vermelho, que já se mostra resistente a herbicidas do grupo das imidazolinonas.

Porém, para que esse controle de invasoras seja eficiente, a lavoura de soja precisa ser forte e bem desenvolvida. A soja deve fechar o [dossel], que é a camada de folhas que cobre o solo, para fazer sombra e impedir o crescimento de novas plantas daninhas. Se isso não acontecer, as invasoras se espalham e aumentam o banco de sementes no solo para o próximo ciclo.

É por isso que a adubação de soja, especialmente com fósforo, é um passo fundamental para o sucesso da rotação com o arroz.

Por que a Soja Responde Tão Bem ao Fósforo em Solos de Arroz?

Os solos gaúchos onde o arroz é tradicionalmente cultivado apresentam algumas características que exigem atenção. De modo geral, eles são:

  • Ácidos ou extremamente ácidos.
  • Com baixos teores de argila e matéria orgânica.
  • Deficientes em nutrientes essenciais, como fósforo e potássio.

Essas características os classificam como solos de baixa fertilidade natural.

Por outro lado, a cultura da soja é mais exigente que o arroz irrigado em relação à fertilidade. A soja precisa de um solo com acidez corrigida (pH próximo a 6,0), maior disponibilidade de fósforo e também extrai mais potássio através dos grãos na colheita.

Isso significa que, em solos de várzea, a soja tem um alto potencial de resposta tanto à adubação quanto à [calagem], que é a aplicação de calcário para corrigir a acidez do solo.

duas plantas de soja jovens, recém-coletadas do campo, dispostas lado a lado sobre uma superfície escura e tex

(Foto: Oryza&Soy)

Um estudo realizado em solos arrozeiros no Rio Grande do Sul avaliou exatamente essa resposta da soja à adubação com fósforo. A pesquisa foi conduzida em lavouras de Capivari do Sul, Cachoeirinha, São Gabriel e Cachoeira do Sul.

Os resultados mostraram que a máxima eficiência produtiva foi alcançada com a aplicação de 120 quilos de fósforo (P2O5) por hectare. Com essa dose, o rendimento médio foi de 4,26 toneladas por hectare, o que equivale a aproximadamente 71 sacas.

Isso representa um aumento de produtividade de 1,28 tonelada por hectare em comparação com a área que não recebeu o adubo (testemunha). (Vedelago, 2014)

Adubação na Rotação Arroz-Soja: Cuidado para Não Empobrecer o Solo

Um dos principais benefícios esperados da rotação de arroz com soja é o aumento da fertilidade do solo a longo prazo. A lógica é que a soja, recebendo uma adubação mais pesada que o arroz, deixaria um “saldo” de nutrientes para a cultura seguinte.

No entanto, esse enriquecimento do solo só acontece quando o balanço de nutrientes é positivo. Em outras palavras: a quantidade de nutrientes que você adiciona com o adubo precisa ser maior do que a quantidade que a soja retira do solo e leva embora nos grãos.

No estudo mencionado, o efeito residual positivo de fósforo no solo só foi observado com a aplicação de doses superiores a 60 quilos de P2O5 por hectare. Doses menores que essa não foram suficientes para repor o que a planta consumiu.

Um detalhe importante: a área do teste que não recebeu adubação com fósforo (testemunha) ainda assim produziu cerca de 50 sacas por hectare. Este rendimento é considerado bom, próximo à média do estado, o que prova que as condições do teste foram excelentes. No entanto, uma lavoura tão produtiva também extrai muitos nutrientes do solo, o que pode reduzir as reservas de fósforo.

O balanço de fósforo não é necessariamente positivo

Isso mostra que existe um risco real de empobrecimento do solo, mesmo fazendo a rotação de culturas. Esse risco aumenta quando as condições de cultivo elevam o potencial produtivo da lavoura, como por exemplo:

  • Semeadura na época ideal (entre outubro e 20 de novembro).
  • Uso de cultivares de alto potencial produtivo.
  • População de plantas adequada.
  • Boas condições de clima, como chuvas bem distribuídas ou o uso de irrigação.

Quando o ambiente é favorável, a planta se desenvolve mais e usa o adubo de forma mais eficiente, extraindo o máximo de nutrientes que consegue do solo.

Conclusão

A aplicação de fósforo na cultura da soja em áreas de rotação com arroz precisa ser planejada com cuidado. É fundamental dimensionar a adubação corretamente para atender às necessidades da cultura e, ao mesmo tempo, garantir que a fertilidade do solo seja mantida ou melhorada.

Sem esse planejamento, o produtor pode, sem perceber, esgotar as reservas de nutrientes do solo. Isso iria contra a principal expectativa da rotação de culturas, que é justamente enriquecer a terra para os próximos ciclos.


Glossário

  • Calagem: Prática de aplicar calcário no solo para corrigir a acidez (aumentar o pH). É um passo fundamental para tornar o ambiente mais favorável para culturas exigentes como a soja, especialmente em solos ácidos de várzea.

  • Cultivares: Variedades de uma planta (neste caso, a soja) que foram desenvolvidas por meio de melhoramento genético para apresentar características específicas, como alta produtividade, resistência a pragas ou adaptação a um determinado clima.

  • Dossel: Refere-se à camada superior de folhas da lavoura que cobre o solo. Um dossel bem fechado cria sombra, o que impede a germinação e o crescimento de plantas daninhas por falta de luz.

  • Hectare (ha): Unidade de medida de área agrária que equivale a 10.000 metros quadrados. Para referência, um campo de futebol oficial tem aproximadamente 0,7 hectare.

  • P2O5 (Pentóxido de Fósforo): É a forma como a concentração do nutriente Fósforo (P) é expressa nos fertilizantes. A recomendação de “120 quilos de P2O5 por hectare” indica a quantidade deste composto a ser aplicada, e não de Fósforo puro.

  • Plantas daninhas: Plantas que crescem onde não são desejadas, competindo com a cultura principal (soja ou arroz) por recursos essenciais como água, luz e nutrientes. O arroz vermelho é um exemplo citado no texto.

  • Rotação de culturas: Técnica agrícola que consiste em alternar diferentes espécies de plantas na mesma área em safras consecutivas. A rotação soja-arroz, por exemplo, ajuda a quebrar o ciclo de plantas daninhas e melhora a fertilidade do solo.

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Dimensionar a adubação corretamente, como vimos, é um desafio que impacta tanto a saúde do solo quanto a rentabilidade da lavoura. Sem um controle preciso, o produtor corre o risco de investir demais em fertilizantes ou, pior, aplicar menos que o necessário, comprometendo a produtividade e a fertilidade para as próximas safras. Ferramentas de gestão agrícola, como o Aegro, são projetadas para resolver esse dilema. Elas permitem um acompanhamento detalhado dos custos com insumos e centralizam o planejamento das atividades agrícolas, garantindo que cada aplicação de fertilizante seja registrada e seu impacto no custo final seja claro. Isso transforma o planejamento da adubação em uma decisão baseada em dados, conectando o campo ao financeiro.

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Perguntas Frequentes

Qual a dose ideal de fósforo para a soja cultivada em rotação com arroz irrigado?

Um estudo em solos gaúchos indicou que a máxima produtividade, cerca de 71 sacas/ha, foi atingida com 120 quilos de P2O5 por hectare. No entanto, essa é uma referência. A dose ideal para sua lavoura deve ser definida com base em uma análise de solo detalhada e na expectativa de produtividade, garantindo que as necessidades específicas da sua área sejam atendidas.

Por que a soja em solos de várzea responde tão bem à adubação com fósforo?

Os solos de várzea, tradicionalmente usados para o arroz, são naturalmente ácidos e pobres em nutrientes como o fósforo. Como a cultura da soja é mais exigente em fertilidade que o arroz, a correção dessas deficiências com adubação fosfatada e calagem resulta em um salto de produtividade muito significativo, pois a planta encontra as condições ideais para se desenvolver.

É possível empobrecer o solo mesmo realizando a rotação de culturas soja-arroz?

Sim, é um risco real. Uma lavoura de soja altamente produtiva extrai uma grande quantidade de nutrientes do solo. Se a adubação não repor, no mínimo, a quantidade de fósforo retirada pelos grãos na colheita, o resultado será um balanço negativo de nutrientes, esgotando as reservas do solo ao longo do tempo e prejudicando as safras futuras.

O que significa ‘fechar o dossel’ da soja e por que isso é crucial nesse sistema?

Fechar o dossel significa que as folhas da soja cresceram o suficiente para cobrir completamente o solo, criando uma sombra densa. No sistema de rotação com arroz, isso é fundamental para suprimir o crescimento de plantas daninhas, como o arroz vermelho, por falta de luz. Um dossel bem fechado reduz a competição e diminui o banco de sementes de invasoras para o ciclo seguinte do arroz.

Além do fósforo, quais outros cuidados de manejo são essenciais para a soja em áreas de arroz?

Dois cuidados são fundamentais. O primeiro é a calagem, que consiste na aplicação de calcário para corrigir a acidez do solo e elevar o pH para próximo de 6,0. O segundo é monitorar os níveis de potássio (K), pois a soja também extrai grandes quantidades desse nutriente, e a deficiência pode limitar a produtividade.

Como a rotação com soja ajuda a controlar o arroz vermelho resistente a herbicidas?

A rotação quebra o ciclo de vida do arroz vermelho. Na lavoura de soja, é possível usar herbicidas diferentes e mais eficazes contra essa planta daninha, que não poderiam ser usados no cultivo de arroz. Além disso, o sombreamento provocado pelo dossel da soja, como mencionado, impede o desenvolvimento de novas plantas de arroz vermelho, reduzindo sua população para a próxima safra de arroz.

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