O ácaro-branco se tornou uma grande preocupação para produtores nas últimas safras, causando danos significativos em diversas culturas importantes. Essa praga, que se alimenta de muitas espécies de plantas, está presente em várias regiões produtoras do mundo e tem um enorme potencial de prejuízo, principalmente por reduzir o porte das plantas.
Um dos maiores desafios é que seus sintomas podem ser facilmente confundidos com os de outras pragas, doenças causadas por fungos ou até viroses. Por isso, conhecer as características do ácaro-branco é fundamental para agir corretamente.
Neste artigo, você vai entender em detalhes os sintomas causados por essa praga, descobrir quais são as condições que favorecem sua infestação e aprender as melhores estratégias de manejo.
O que é o ácaro-branco?
O ácaro-branco (Polyphagotarsonemus latus) é uma espécie de ácaro encontrada nas mais importantes culturas agrícolas do Brasil. Embora seja parecido com o ácaro-rajado, ele é consideravelmente menor. Trata-se de uma praga polífaga, ou seja, que consegue se alimentar de muitos tipos de plantas.
Você também pode encontrá-lo com outros nomes científicos, como:
- Hemitarsonemus latus;
- Neotarsonemus latus;
- Tarsonemus latus;
- Tarsonemus phaseoli.
Diferenças visuais entre o ácaro-rajado (à esquerda) e o ácaro-branco (à direita).
(Fonte: Salvadori, 2007)
Apesar de parecer uma das novas pragas da soja, a ocorrência do ácaro-branco já foi registrada em safras anteriores. O que mudou e tem deixado os produtores em alerta é a alta frequência e as grandes áreas de infestação observadas recentemente, principalmente devido a condições ambientais favoráveis.
Seu ciclo de vida é extremamente rápido: de ovo até a fase adulta, leva apenas de 5 a 8 dias. A oviposição (postura dos ovos) acontece principalmente na parte de baixo das folhas, e o ciclo de vida é composto por três fases principais: ovo, larva e adulto.
O ácaro-branco tem uma coloração amarelo-pálida ou verde-amarelada, que pode variar dependendo da planta em que se alimenta. Seus ovos são alongados, transparentes e possuem pequenos pontos brancos na superfície.
Como diferenciá-lo dos outros tipos de ácaro e doenças?
Saber diferenciar o ataque do ácaro-branco de outras doenças, como viroses, é crucial para o manejo correto. Aqui estão os pontos-chave para a identificação:
- Distribuição na Lavoura: Diferente de muitas viroses, o ataque do ácaro-branco aparece em manchas na lavoura (reboleiras), com várias plantas próximas afetadas.
- Sintomas Visuais Graves: Em ataques severos, pode ocorrer a queda de folíolos (as pequenas folhas que compõem a folha principal) e um bronzeamento das hastes, da parte de baixo das folhas, dos pecíolos (cabinhos das folhas) e das vagens.
- Ausência de Teias: Ao contrário de outros ácaros, como o rajado, o ácaro-branco não forma teias nas folhas atacadas.
O Teste Prático do Corte da Haste
Existe um método simples para diferenciar os danos do ácaro-branco de doenças causadas por fungos:
- Corte a haste da folha afetada no sentido do comprimento (longitudinal).
- Analise o aspecto interno dos tecidos.
- Resultado: Se a coloração interna estiver normal, é um forte indicativo de ataque do ácaro-branco. Se os tecidos internos estiverem escurecidos, a causa provável é uma doença fúngica.
O ácaro-branco prefere se alimentar de tecidos jovens. Por isso, a época de maior infestação coincide com o período de crescimento intenso das culturas, principalmente durante a fase vegetativa.
Quais as condições ambientais favoráveis para a praga?
Enquanto a maioria dos ácaros se prolifera em tempo seco, o ácaro-branco é uma exceção. As condições que favorecem sua explosão populacional são justamente as opostas.
Períodos de alta umidade, com chuvas frequentes associadas a temperaturas elevadas, criam o ambiente ideal para a infestação.
Na cultura da soja, essas condições climáticas foram observadas com frequência em parte da Região Central e nos estados do Sul do Brasil. É importante notar que o ácaro-branco também pode se tornar um problema sério em estufas de produção, onde a umidade e a temperatura são controladas.
Por outro lado, ele é sensível a baixas temperaturas e não resiste ao frio intenso.
Danos do ácaro-branco na soja, no café e no algodão
O potencial de dano do ácaro-branco é muito alto. Em outros países, já foram relatadas perdas de até 50% na produção de feijão. Para o algodão, é considerado uma praga importante na África tropical e em diversas regiões produtoras do Brasil.
De acordo com o Cabi (Centro Internacional de Biociência Agrícola), o ácaro-branco está amplamente distribuído pelo mundo e afeta diversas culturas de grande interesse econômico:
Danos na Soja
Na soja, o ácaro reduz a distância entre os nós da haste (entrenós), o que diminui a altura da planta. Como consequência, as plantas sadias ao redor acabam sombreando as plantas atacadas, o que reduz ainda mais o seu potencial produtivo.
Sintomas do ácaro-branco em infestação severa, com bronzeamento da haste principal e redução da estatura da planta.
(Fonte: Roggia, 2023)
Danos no Algodão
No algodão, o ácaro-branco se torna um problema sério em anos chuvosos e de altas temperaturas. O ataque geralmente ocorre após adubações foliares ou nitrogenadas, quando coincidem com as condições ambientais favoráveis. Os principais danos são:
- Aspecto brilhante na parte de baixo das folhas.
- Folhas que se retorcem para cima.
- Redução no número de maçãs, impactando negativamente a qualidade das fibras.
Aspecto das folhas de algodoeiro após o ataque do ácaro-branco.
(Fonte: Tomquelski, 2020)
Danos no Café
No café, o ácaro-branco causa a formação de rugas na superfície das folhas, além da distorção de folhas e brotos novos. As folhas e ramos também podem apresentar um aspecto bronzeado.
Danos causados pelo ácaro-branco em café.
(Fonte: Nelson, 2023)
Como se livrar do ácaro em plantas?
O controle do ácaro-branco depende de um bom monitoramento da praga. A recomendação é agir quando 20% das plantas apresentarem sintomas característicos, desde o início do desenvolvimento até o começo da floração.
Veja um passo a passo para monitorar sua lavoura:
- Faça a Amostragem: Caminhe pela área e analise 10 plantas aleatórias em diferentes pontos.
- Investigue os Pontos Críticos: Dê atenção especial às plantas com crescimento anormal e àquelas localizadas em reboleiras (manchas de infestação).
- Foque nos Sintomas: Lembre-se que visualizar o ácaro é muito difícil, mesmo com uma lupa. O mais importante é identificar os sintomas do ataque.
Existem poucos produtos registrados para o controle do ácaro-branco. No entanto, um ponto a se considerar é que a praga ataca principalmente os pontos de crescimento da planta (tecidos novos).
Quando a cultura está em estádios de desenvolvimento mais avançados, com folhas já expandidas e estruturas reprodutivas formadas, o controle pode não ser mais necessário. Nessa fase, sem tecidos novos para se alimentar, a população da praga tende a reduzir de forma natural.
No Agrofit, podem ser consultados diversos acaricidas registrados para as diferentes culturas. Além disso, a adoção do MIP (Manejo Integrado de Pragas) é fundamental para um controle eficaz e sustentável.
Consulte sempre um(a) engenheiro(a) agrônomo(a) para obter a recomendação do melhor controle, especialmente se outras pragas estiverem ocorrendo ao mesmo tempo. Isso ajuda a otimizar as aplicações e garantir o melhor resultado.
Conclusão
O ácaro-branco é uma praga com ampla distribuição mundial e um alto potencial de causar danos, especialmente em períodos quentes e chuvosos.
Seu controle é feito principalmente com acaricidas, mas a decisão de aplicar deve ser baseada em um monitoramento cuidadoso, agindo quando a infestação atinge um nível que justifique o custo da operação.
Sempre observe o estágio de desenvolvimento da sua cultura. Essa análise é crucial para acertar na tomada de decisão e aplicar o produto certo, no momento ideal, protegendo a sua produtividade.
Glossário
Acaricida: Tipo de defensivo agrícola (pesticida) desenvolvido especificamente para controlar e eliminar ácaros. É a principal ferramenta química utilizada no manejo do ácaro-branco quando o monitoramento indica necessidade de intervenção.
Bronzeamento: Sintoma visual de dano em que as partes da planta (folhas, hastes, pecíolos) adquirem uma coloração marrom-acobreada, semelhante a bronze queimado. É causado pela morte dos tecidos vegetais devido à alimentação do ácaro.
Fase vegetativa: Período de desenvolvimento da planta que ocorre entre a germinação e o início do florescimento. Nesta etapa, a planta foca no crescimento de folhas e caules, que são tecidos jovens e preferidos pelo ácaro-branco.
MIP (Manejo Integrado de Pragas): Uma estratégia ampla que combina diferentes táticas de controle (biológico, cultural, químico) para manter as pragas abaixo do nível de dano econômico. O objetivo é usar acaricidas de forma racional, apenas quando estritamente necessário.
Oviposição: O ato de depositar ou botar ovos. No ciclo de vida do ácaro-branco, a oviposição ocorre principalmente na face inferior das folhas, onde os ovos ficam mais protegidos.
Praga polífaga: Um organismo capaz de se alimentar e se desenvolver em diversas espécies de plantas. O ácaro-branco é polífago por atacar culturas distintas como soja, algodão, feijão e café, o que aumenta seu potencial de dano.
Reboleiras: Termo de campo que descreve a ocorrência de uma praga ou doença em manchas ou áreas concentradas na lavoura, em vez de uma distribuição uniforme. A presença de plantas danificadas em reboleiras é um forte indício do ataque do ácaro-branco.
Otimize o manejo do ácaro-branco com a gestão certa
Como vimos, o monitoramento preciso e a decisão de quando aplicar acaricidas são os maiores desafios no controle do ácaro-branco. Saber se o custo da operação será justificado pela infestação é crucial para a rentabilidade da lavoura. Ferramentas de gestão agrícola, como o Aegro, simplificam esse processo, ajudando a tomar decisões baseadas em dados concretos.
Com o aplicativo de campo do Aegro, é possível registrar as informações do monitoramento diretamente no talhão, criando um histórico detalhado da praga. Esses dados, combinados com o controle de custos dos insumos, permitem avaliar com segurança o momento ideal para a pulverização, garantindo que a aplicação seja feita apenas quando for realmente necessária e economicamente viável.
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Perguntas Frequentes
Qual a principal diferença entre o ataque do ácaro-branco e o do ácaro-rajado?
A principal diferença é que o ácaro-branco não forma teias, uma característica comum do ácaro-rajado. Além disso, os sintomas do ácaro-branco incluem um bronzeamento intenso das hastes e folhas e a ocorrência em reboleiras (manchas), enquanto o ácaro-rajado costuma causar pontuações amareladas nas folhas.
Por que o ácaro-branco se prolifera mais em períodos chuvosos, ao contrário de outros ácaros?
O ácaro-branco é uma exceção à regra. Seu ciclo biológico é favorecido por condições de alta umidade e temperaturas elevadas, cenário comum em verões chuvosos no Brasil. Diferente da maioria dos ácaros que preferem tempo seco, a combinação de chuva e calor acelera sua reprodução, causando infestações severas.
Existe um teste rápido para diferenciar o dano do ácaro-branco de uma doença fúngica?
Sim. Um método prático é cortar a haste da folha afetada no sentido do comprimento. Se a coloração interna dos tecidos estiver normal e saudável, é um forte indicativo do ataque do ácaro-branco. Tecidos internos escurecidos ou necrosados geralmente apontam para uma doença causada por fungos.
Quando é o momento certo para aplicar um acaricida contra o ácaro-branco?
A recomendação é iniciar o controle químico quando o monitoramento indicar que 20% das plantas apresentam sintomas. É crucial agir principalmente durante a fase vegetativa da cultura, pois o ácaro ataca preferencialmente tecidos jovens. Em estágios mais avançados, o controle pode não ser economicamente viável.
O ataque do ácaro-branco se distribui de forma uniforme pela lavoura?
Não, o ataque do ácaro-branco é caracterizado por ocorrer em manchas, conhecidas como reboleiras. Você notará áreas específicas da lavoura com plantas de porte reduzido e com sintomas, enquanto plantas ao redor podem parecer saudáveis. Esse padrão de distribuição ajuda a diferenciar seu ataque de outros problemas.
Por que o controle do ácaro-branco pode não ser necessário em estágios mais avançados da cultura?
O ácaro-branco se alimenta preferencialmente de tecidos novos e em crescimento. Quando a cultura atinge estágios mais avançados, com folhas já expandidas e estruturas reprodutivas formadas, a oferta de alimento para a praga diminui drasticamente. Com isso, a população do ácaro tende a reduzir naturalmente, tornando a aplicação de acaricidas desnecessária e antieconômica.
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