O ácaro azul das pastagens é uma praga que, embora ainda pouco conhecida no Brasil, já marca presença em algumas lavouras e merece atenção. Seu ataque pode ser severo, causando desde a morte de folhas até a perda de plantas inteiras, o que impacta diretamente a produtividade e a lucratividade da fazenda.
Essa praga afeta principalmente as culturas de inverno, com destaque para cereais e pastagens. Para proteger sua produção, é fundamental saber como identificar e controlar esse inimigo silencioso.
Neste guia completo, vamos detalhar as características do ácaro azul das pastagens, mostrar como reconhecer os sinais de seu ataque no campo e apresentar as melhores práticas de manejo e controle.
Quem é o Ácaro Azul das Pastagens?
O ácaro azul das pastagens (Penthaleus major) pertence à classe Arachnida, a mesma das aranhas e escorpiões. É importante lembrar: ele não é um inseto, e sim um aracnídeo.
Também chamado de ácaro dos grãos de inverno ou ácaro azul da aveia, ele é encontrado em diversas partes do mundo. A temperatura ideal para seu desenvolvimento fica entre 8 °C e 15 °C
, o que explica sua maior atividade no inverno.
Adulto do ácaro azul das pastagens
(Fonte: ScienceImage)
Embora as informações ainda sejam limitadas, estudos indicam que ele completa duas gerações por ano.
Principais Características para Identificação
Para reconhecer o ácaro azul no campo, observe os seguintes detalhes:
- Tamanho: As larvas medem cerca de
0,3 mm
, as ninfas0,5 mm
e o adulto chega a1 mm
. - Coloração: O corpo tem uma cor azul escura ou preta.
- Pernas: Possui quatro pares de pernas, que geralmente são vermelhas e se destacam do corpo.
Essa espécie tem preferência por solos arenosos. Em condições desfavoráveis, como calor excessivo ou tempo seco, o ácaro azul se protege entrando no solo a uma profundidade de até 40 cm.
Histórico e Relevância
No Brasil, a praga foi detectada pela primeira vez em 2009, no Rio Grande do Sul. Por ser relativamente recente, os relatos foram poucos até 2020, quando foi novamente identificada na mesma região. Em outros países, como nos Estados Unidos e na Europa, o ácaro azul já é considerado uma importante praga do trigo e de pastagens durante o outono e o inverno.
Como Identificar o Ataque do Ácaro Azul no Campo?
O ácaro azul das pastagens ataca principalmente gramíneas de inverno. Culturas como aveia, trigo, triticale, cevada e centeio são seus alvos preferenciais.
Fique atento aos seguintes sinais visuais na sua lavoura.
Sinais Visíveis nas Plantas
- Mudança na Coloração: Os talhões infestados apresentam uma coloração cinza, prateada ou amarelada, resultado da sucção da seiva das folhas.
- Morte de Tecidos: Em infestações severas, as folhas podem secar e morrer, levando à morte da planta inteira.
- Retardo no Crescimento: As plantas atacadas podem apresentar um desenvolvimento mais lento e irregular.
- Maior Suscetibilidade: O dano causado pelo ácaro deixa as plantas mais vulneráveis a doenças foliares.
Folha de trigo danificada pelo ácaro azul das pastagens
(Fonte: Researchgate)
Embora os relatos de danos graves no Brasil ainda sejam raros e concentrados em pastagens do Rio Grande do Sul, o potencial de prejuízo é alto. Pesquisas internacionais indicam que um ataque severo em gramíneas de inverno pode reduzir a produtividade pela metade.
Passo a Passo para Encontrar o Ácaro na Lavoura
O reconhecimento da praga deve ser feito em meados do outono e no final do inverno. O ácaro azul evita luz solar direta e ventos fortes. Portanto, o melhor momento para o monitoramento é no início da manhã ou ao final da tarde, em dias com tempo calmo, fresco ou nublado.
- Escolha o Horário Certo: Programe a vistoria para os períodos de menor intensidade de sol.
- Observe a Folhagem: Inspecione cuidadosamente as folhas das plantas em busca dos ácaros e dos sintomas de descoloração.
- Verifique o Solo: Olhe a superfície do solo ao redor da base das plantas.
- Arranque Amostras: Retire algumas plantas com raiz e terra para procurar a praga no solo próximo ao sistema radicular.
Após identificar a presença do ácaro, o MIP (Manejo Integrado de Pragas) é a melhor estratégia. Ele combina diferentes táticas de controle para manejar a praga de forma eficiente e sustentável.
Para te ajudar a organizar essa etapa, preparamos uma planilha de controle. Você pode baixar gratuitamente, clicando na imagem abaixo.
Manejo Estratégico do Ácaro Azul das Pastagens
Por ser uma praga pouco conhecida, a vigilância é a principal ferramenta. Fique atento a qualquer registro de ocorrência na sua região e realize o MIP com frequência, mesmo que não observe danos.
Nível de Ação: Quando Intervir?
A decisão de intervir deve ser tomada quando a infestação atingir o nível de dano econômico. A recomendação geral é agir quando:
- A população de ácaros atingir entre 2 e 30 indivíduos por planta;
- Ou quando 10% das plantas da área monitorada apresentarem a mudança de coloração característica (cinza, prateada ou amarelada).
Se durante o monitoramento você encontrar uma população pequena e dispersa, com poucos danos, faça uma nova inspeção em uma semana para reavaliar a situação antes de tomar uma decisão.
Controle Cultural
O controle cultural utiliza práticas agrícolas para tornar o ambiente menos favorável à praga.
- Rotação de Culturas: No período de inverno, utilize culturas de folhas largas (não gramíneas) na rotação. Isso quebra o ciclo de vida do ácaro, que se alimenta preferencialmente de gramíneas.
- Preparo do Solo: A aração e/ou gradagem expõe os ácaros que vivem no solo à luz solar e ao calor. Essas condições reduzem sua população e dificultam sua multiplicação.
Controle Biológico
O controle biológico é uma opção sustentável que utiliza inimigos naturais.
- Ácaros Predadores: A família de ácaros predadores Phytoseiidae é uma aliada importante. Duas espécies, Neoseiulus californicus e Phytoseiulus macropilis, possuem registro no MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) e são comercializadas por biofábricas para o controle de ácaros-praga.
Predador Neoseilus californicus utilizado no MIP
(Fonte: Koppert)
Controle Químico: O que Sabemos até Agora
É fundamental entender que, por ser uma praga emergente no Brasil, não existem acaricidas com registro específico para o controle do ácaro azul das pastagens em nosso país.
As informações disponíveis vêm de estudos internacionais:
- Permetrina: Um trabalho na Europa testou este inseticida do grupo dos piretroides. A aplicação de
50 ml de ingrediente ativo por hectare
reduziu a população de ácaros e aumentou o rendimento da pastagem. No entanto, foram observados efeitos colaterais na cultura. No Brasil, existem produtos à base de Permetrina registrados para o trigo no portal Agrofit, mas não para este alvo específico. - Dimetoato: Testado na Austrália, este inseticida/acaricida sistêmico do grupo dos organofosforados também se mostrou eficiente. O Dimetoato está registrado no MAPA para o trigo em produtos como Dimetoato 500 EC (Nortox S.A.) e Dimexion (FMC Química).
Atenção: Qualquer aplicação de produtos químicos deve seguir rigorosamente as recomendações da bula e ser orientada por um engenheiro-agrônomo. Dê preferência a produtos seletivos aos inimigos naturais para não prejudicar o controle biológico e evitar o aumento da pressão de seleção sobre a praga.
Conclusão: Protegendo sua Lavoura de Inverno
O ácaro azul das pastagens é uma ameaça real para cereais e pastagens de inverno. A boa notícia é que, com vigilância e manejo correto, é possível controlar a praga e proteger sua produção.
Para resumir, lembre-se dos pontos-chave:
- Foco do Monitoramento: Dê atenção especial a áreas com solo arenoso durante o outono e o inverno.
- Sinais de Alerta: Folhas com coloração cinza, prateada ou amarelada são o principal indicativo da presença da praga.
- Estratégias de Manejo: Combine o monitoramento constante com a rotação de culturas usando plantas de folhas largas.
- Controle Químico: Utilize a pulverização com inseticidas/acaricidas apenas quando atingir o nível de dano econômico e sempre com a orientação de um(a) engenheiro(a)-agrônomo(a).
Manter-se informado é a melhor defesa contra pragas emergentes. Ao aplicar essas práticas, você estará um passo à frente para garantir a saúde e a produtividade da sua lavoura.
Glossário
Aracnídeo: Classe de animais que inclui aranhas, escorpiões e ácaros. Diferenciam-se dos insetos por possuírem oito pernas e corpo dividido em duas partes, uma característica importante para entender a biologia do ácaro azul.
Controle Biológico: Método de manejo que utiliza inimigos naturais (como ácaros predadores) para controlar a população de uma praga. É uma estratégia mais sustentável que o controle químico exclusivo.
Controle Cultural: Uso de práticas agrícolas para criar um ambiente desfavorável à praga. Exemplos citados no texto incluem a rotação de culturas e a aração do solo para expor os ácaros ao sol.
MIP (Manejo Integrado de Pragas): Estratégia que combina diferentes métodos de controle (cultural, biológico, químico) para manter as pragas em um nível que não cause dano econômico. O objetivo é ser eficiente, econômico e ambientalmente seguro.
Organofosforados: Grupo químico de inseticidas e acaricidas que atuam no sistema nervoso da praga. O Dimetoato, um dos produtos mencionados para controle, pertence a esta classe.
Piretroides: Grupo de inseticidas sintéticos derivados de compostos naturais do crisântemo. A Permetrina, testada para o controle do ácaro azul, é um exemplo de piretroide.
Rotação de Culturas: Prática de alternar o plantio de diferentes espécies vegetais em uma mesma área. No contexto do artigo, plantar culturas de folhas largas (não gramíneas) ajuda a quebrar o ciclo de vida do ácaro azul.
Solo Arenoso: Tipo de solo com predominância de partículas de areia, caracterizado por alta drenagem e baixa retenção de água e nutrientes. O artigo o aponta como o ambiente preferido do ácaro azul das pastagens.
Otimize o manejo de pragas com a gestão integrada
O monitoramento constante e a tomada de decisão no tempo certo, como vimos, são cruciais para controlar o ácaro azul das pastagens e evitar perdas econômicas. No entanto, registrar manualmente cada inspeção, controlar os níveis de infestação e planejar as pulverizações pode ser uma tarefa complexa e sujeita a falhas, especialmente ao lidar com uma praga emergente.
Para superar esse desafio, ferramentas de gestão agrícola como o Aegro centralizam todas as informações em um só lugar. Com o aplicativo, é possível registrar as contagens de pragas diretamente do talhão, anexando fotos e geolocalização. Isso cria um histórico confiável para o Manejo Integrado de Pragas (MIP), facilitando a identificação do momento exato de agir e garantindo que as aplicações de defensivos sejam feitas apenas quando realmente necessário.
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Perguntas Frequentes
Qual a principal diferença entre o ácaro azul e um inseto, e por que isso é importante para o manejo?
O ácaro azul é um aracnídeo com oito pernas, enquanto insetos têm seis. Essa distinção é crucial porque muitos inseticidas comuns podem não ser eficazes contra ácaros, sendo necessário o uso de produtos com ação acaricida. Além disso, estratégias como o controle biológico envolvem inimigos naturais específicos para ácaros, tornando a identificação correta fundamental para um manejo eficaz.
Em que época do ano e em que tipo de solo devo intensificar o monitoramento do ácaro azul?
O monitoramento deve ser intensificado durante o outono e o inverno, períodos em que as temperaturas mais baixas (entre 8°C e 15°C) favorecem o desenvolvimento da praga. Dê atenção especial às áreas de solo arenoso, pois este é o ambiente preferido pelo ácaro azul para se abrigar e se reproduzir.
Por que a rotação de culturas com plantas de folhas largas é uma tática de controle eficaz?
A rotação de culturas é muito eficaz porque o ácaro azul se alimenta preferencialmente de gramíneas (trigo, aveia, pastagens). Ao introduzir uma cultura de folha larga, como canola ou leguminosas, você interrompe a principal fonte de alimento da praga. Isso quebra seu ciclo de vida e reduz drasticamente sua população para a safra seguinte.
Posso usar qualquer acaricida registrado para trigo para controlar o ácaro azul das pastagens?
Não. Atualmente, não existem produtos com registro específico no Brasil para o controle do ácaro azul. Utilizar um defensivo para um alvo não previsto na bula é uma prática ilegal e arriscada. Qualquer decisão de controle químico deve ser obrigatoriamente orientada por um engenheiro-agrônomo, que poderá indicar a melhor estratégia dentro das normas vigentes.
Os danos do ácaro azul nas folhas podem ser confundidos com deficiência de nutrientes?
Sim, a confusão é possível, pois ambos podem causar amarelamento. A principal diferença é que o ataque do ácaro azul deixa um aspecto prateado, cinza ou esbranquiçado nas folhas, resultado da sucção da seiva. Já a deficiência de nutrientes, como o nitrogênio, tende a causar um amarelamento mais uniforme, geralmente começando pelas folhas mais velhas.
Qual o primeiro passo se eu encontrar plantas com sintomas do ataque do ácaro azul na lavoura?
O primeiro passo é confirmar a presença da praga. Realize uma inspeção detalhada no início da manhã ou final da tarde, observando a base das plantas e a superfície do solo. Se confirmar a infestação, quantifique o nível de ataque para decidir se o nível de dano econômico foi atingido e se uma intervenção, seguindo os princípios do MIP, é necessária.
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